OS TRÊS BÊS

Minha crise ainda não foi permanentemente embora, mas tenho fé.

Minha inconformidade diante de algumas situações do cotidiano é recorrente. E hoje tirei minha sexta especialmente para falar sobre um assunto que revolta muita gente.

O tópico é o tal famoso espaço físico, copiado pelo Brasil há uma década, projetado especialmente para abrigar temporariamente homens e mulheres que deixam de "ser" para "aparecer".

Para fazer parte deste espaço, basta ser Bonito, Burro e Brasileiro, claro. Ressaltando que na categoria Bonito, entram os Bombados e as Boazudas.

Vinte e quatro horas sendo filmados, inclusive em suas intimidades, e sendo obrigados a despirem sua alma para se exibirem em rede de televisão.

O horário é nobre e antes de dormir, por pior que seja aquele conjunto de representações, muita gente dá aquela espiada e pelo menos o nome de um concorrente sabe. Ah, sabe! Além do mais, é inevitável não assistir àquilo de alguma forma; jornais, revistas e páginas de internet estampam o tema em suas manchetes, e o povo não tem como escapar, ainda que não se envolva.

Ali, são homens e mulheres de culturas e personalidades diferentes. Tentam, a todo custo faturar uma bolada milionária e com isso atingirem a fama. Em sua maioria, sempre com a exibição do corpo, não da inteligência.

À frente, conduzindo-os, está um grande articulador, que ri do papel a que muitos ali se prestam. Chega dar pena... [risos]

Os que dão "sorte" de entrar lá precisam ganhar a simpatia do telespectador, que é quem os julga e os expulsa com dia e hora marcados. Se quiser sobreviver, não pode ser muito sensato – esse é famoso "não fede, nem cheira" - nem muito antipático ou dissimulado. O povo pega birra e elimina mesmo.

No final, o grande contemplado, ainda que sob uma sutil manipulação da mantenedora do espaço, é aquele que mais agradou. Ora o bonzinho, ora o briguento, ou o mais legalzinho ou o que mais se exibe...

Jogo de estratégias? Até hoje não sei, acho que não. Muitos ali não têm esta arte de dirigir situações tão complexas.

Ultimamente, tenho terminado minhas úteis tarefas diárias, e sentado no sofá para observar certos comportamentos. Não sou obcecada por aquilo, tampouco conivente com tais condutas, no entanto, não sou hipócrita para dizer que nunca assisto. Tem vez que minha cabeça não se concentra nem em escrita, nem em leitura. Aí ofereço minha atenção para ficar analisando a maneira como os "irmãos" se expressam; mania mesmo. Permaneço ali, também, imaginando como deve ser depois que saem dali, e assistem aos vídeos da época em que estavam enclausurados por livre e espontânea vontade (de ganhar um prêmio). Como deve ser decepcionante assistir àquele que se julgava amigo, falando mal pelas costas em outra câmera!

Ninguém é amigo de ninguém naquele lugar. Todos são concorrentes, possuem um e exclusivo objetivo: ganharem sozinhos o prêmio maior. Aquela choradeira quando um ou outro sai depois do júri popular... Quantas lágrimas revestidas de falsidade!

Os casaizinhos formados unicamente para se fortalecerem no jogo são igualmente ridículos. Que amor o quê?! Para se viver um amor, é preciso um envolvimento, uma convivência, uma razão, não uma ou duas semanas de "confinamento" ou "afinidade", como dizem.

O programa é sim de baixo nível, em que culturalmente não se ganha absolutamente nada. Mas o problema é da emissora? Claro que não! O problema é o povo que assiste.

Tive o cuidado de procurar esses fóruns em que pessoas opinam sobre assuntos variados. Li vários deles sobre os tais realities. São críticas e mais críticas, no entanto, percebam a incongruência: se tem tanta gente que critica, por que é que a audiência não cai, mesmo com dez anos de existência?

Cabe a cada um julgar o que considera bom ou não, ou ainda escolher absorver aquilo ou não.

Quem está lá, quer ganhar o prêmio, além de virar artista, capa de revista, e ter a chance que, quase certamente, não teria com a profissão.

A emissora fatura milhões e milhões com as ligações que as pessoas fazem principalmente em dia de eliminação. Por que teria interesse em deixar de produzir o programa? Só porque a minoria critica? De maneira alguma...

Infelizmente vivemos em uma sociedade capitalista, em que a meta é o lucro sempre crescente.

A maioria ganha alguma coisa? Não! Apenas se diverte com as Besteiras, os Barracos e as Bundas de lá.

Reflitamos a respeito.

Lucimara Souza
Enviado por Lucimara Souza em 11/02/2010
Código do texto: T2082191
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