Botando minha colher no angu de caroço

Em Itabaiana só se fala na demissão de Dorinha, secretária da Paróquia local. O padre novato afastou Dorinha e botou em seu lugar uma nova funcionária, dizem que bela figura, jovem e atraente. A maledicência geral corre solta, porque dizer mal dos outros é o esporte preferido das cidadezinhas provincianas.

Não entro no mérito da dispensa de Dorinha, não sei se a substituição foi baseada em critérios voluptuosos, como querem crer os fofoqueiros de plantão, mas registro aqui nessa resenha do dia-a-dia itabaianense que conheço Dorinha desde quando foi secretária do Escritório de Advocacia Sobral Pinto, montado por meu pai Arnaud Costa, Josué Dias de Oliveira e Fernando Rodrigues de Melo. Ela sempre foi uma pessoa do bem, trabalhadora, competente e honesta. Dorinha é aquela figura clássica de uma pessoa acima de qualquer suspeita.

Simples e honrada, minha amiga Dorinha merecia melhor tratamento. O padre certamente não conhece sua vida. O fato da demissão em si, nada singular ou fantástico, abalou a sociedade porque todo mundo achou que foi uma afronta não a Dorinha, mas ao próprio conjunto de habitantes da terra de Abelardo Jurema. Interior tem dessas coisas, a vida de cada um pertence de certa forma à coletividade, que se viu afrontada pela indelicadeza do pároco em afastar tão singela figura.

Soube que o mesmo padre mandou para casa o sacristão Bebé, que contava mais de meio século a serviço da Paróquia. De tão deprimido por se ver afastado de sua querida Igreja e seu ambiente de velas, santos, missas e enterros, Bebé não resistiu e morreu de mágoa e desgosto. Por aí se vê que o atual sacerdote da Matriz da Conceição vem pecando no quesito relações humanas. Em outras palavras, não está agradando à galera. Como só depende do Bispo para se manter no cargo, ele não deve estar preocupado com o que pensam suas ovelhas a seu respeito. O próprio Bispo, um cearense que veio para cá com fama de conservador, vem causando descontentamento a muita gente. Já diz o aforismo popular: se não estiver satisfeito, vá se queixar ao bispo. Portanto...

Encontrei Dorinha no Ponto de Cultura Cantiga de Ninar. Foi assistir à peça ABC de Zé da Luz. Disse que está chateada por ter seu nome propagado até na internet, perguntou pela minha família, mas não revelou o motivo da sua tão badalada demissão. Com seu jeito simples, Dorinha vai ficar na lembrança das pessoas deste lugar. Já o pároco desaparecerá na grande massa dos obscuros desconstrutores da História.

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Fábio Mozart
Enviado por Fábio Mozart em 11/02/2010
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