C$1280,00

“Tenho certeza que o valor de todos os meus guardados supera C$1280,00”.

“Mas, papai a crise mundial afetou muito os ferros-velhos. Até mesmo os trabalhadores dos recicláveis não batem mais em nossas portas”.

O quartinho do fundo do quintal se tornou um depósito de tralhas. Com a doença de Sergio a família procura convencê-lo sobre a importância da limpeza do quartinho. A filha há mais de cinco anos pede para limpar o famigerado quarto da múmia.

A infestação pelo inseto da ordem isoptera pode ser ouvida por todos que entram no recinto. Um tichitichitichitichitichitichitichitichi diabólico rói e arruína tudo que encontra pela frente.

Sebastião é o cata-cacarecos mais conhecido e reconhecido na cidade. O homem leva junto o seu filho Romildo. O jovem possui certa dificuldade de aprendizagem. Sebastião sabendo que o seu filho é especial, desde pequeno o leva junto e o estimula através da matemática. O velho escreve números em tudo e mostra ao filho. Agora na idade adulta Romildo faz contas como ninguém!

“C$1280,00 é o mínimo que vale tudo que vocês vão levar!”

Romildo olha para o pai e faz a proposta. “Pai fique com tudo em troca do carreto”.

“Suely peça para o Juvenal ir junto com eles no ferro-velho. Olha, eu reparto os C$1280,00 com você.”

A filha e Juvenal sabiam que nada tinha valor econômico; o valor sentimental era supervalorizado pelo pai.

“Estou feliz, pois com a metade dos C$1280,00 pretendo passar o final da semana no Rio de Janeiro. Hotel Nacional, lá vou eu!”

Romildo passa rápido carregando um caldeirão enferrujado.

“Volta com o caldeirão, pois a minha mãe cozinhou sopa para os soldados revolucionários de 1932, este caldeirão se fosse ser vendido a um museu renderia uns C$120,00.”

A caminhonete fica entupida de bugigangas.

“Amanhã, eu volto para levar o resto.”

O combinado é a troca das tralhas pelo trabalho e o carreto do dia.

“Manhã seguinte, a caminhonete estaciona. Suely vai abrir o portão para a desova de mais quinquilharias da múmia. Sebastião e Romildo passam por Sergio, que estende as mãos.

“Então, e os meus C$1280,00!”

Pai e filho o olham desesperançados.

“O senhor não se preocupe já falei com sua filha e o Juvenal a respeito das vendas para o ferro-velho”,

“C$1280,00 ou você recebeu mais por todos aqueles bens!”

“O senhor não sabe mesmo fazer conta, pois daquilo tudo que levamos a geladeira é que valeu mais!”

“Quanto? C$580,00?”

“Romildo não fale nada filho. O pai já conversou a respeito”!

“Como? Eu quero meus C$1280,00!”

“Pois eu vou contar! A geladeira o pai vendeu por C$10,00 e o resto por C$9,80! Como o senhor não entende patavina de matemática, eu fiz a conta de toda aquela montanha de ferro velho! C$19,80!”

Sérgio desaba de tristeza.

“Então, Suely você não vai para o Rio?”

“Não fique triste paizinho, ainda dá para eu ir ver a enchente do rio de Piracicaba.”

Juvenal tira C$60,00 da carteira e paga o carreto!”