Regra para infidelidade

Pelo menos uma vez entenda que o mundo está mudado. Essa frase salvava seu coração de tantos disparates. O mundo é um texto ruim postado na internet, pois alguém reclamou que escreveu um texto muito ruim, e ainda assim recebeu milhares de elogios. Fenômeno novo graças à internet, brincou Joli, virando-se para Francis que acabara de tocar o solo de seu interesse diretamente da França, disse: “Quelqu'un prétend qu'il a écrit un texte très mauvais et beaucoup ont reçu des compliments”.* Fingindo-se de sonso, continuou: “la mer est clair aussi clairs sont les plaisirs". Francis gemeu acariciando o clima com sua voz de gata mansa: "Oui, j'étais fatigué de surfer sur l'internet”

O carro prosseguia em direção ao grande mar azul. O dia quente de verão era tocado pelo calor das garotas que gritavam para o céu brilhante como se quisessem disputar um jogo. Uma espécie de canto ainda não definido que soaria apenas dentro do útero do mar. Aos poucos sentimos vontade de seguir flutuando dentro da vastidão.

De volta desse maravilhoso e alegre passeio com as damas procurou corrigir a culpa dos desvios... A infidelidade era tabu com regras rígidas militares na casa do Soares. Verdadeiro escândalo. Um terremoto, algo medonho, horrível. Verificar o teatro de abandono dessas horas recairia sempre num conto de Poe após o antidepressivo.

Um sujeito de bem, homem de família, sair com mulher para um passeio no mar, soava estranho, ainda com a esposa em casa entre as plantas do jardim. Essa subjugação de coisa na avaliação dos fatos lhe enraivecia. A síntese reuniria em todas as cabeças da mesa, em todas as almas da sala, o acontecimento como tragédia decisiva; um ódio reservado ao Soares, marido traidor. Absolutamente todo o filme picante já produzido sobre a terra ocuparia aquelas mentes sufocadas pelo desejo reprimido da mesmice. Pelo menos havia sido fiel em certo sentido: Jamais trairia a esposa com uma única mulher. Jamais! Nunca! Era regra básica que ele seguia sempre a risca.

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