MEUS VIZINHOS SÃO UM TERROR

Quem acha que sofre com vizinhos deveria passar alguns dias na minha residência, estrategicamente localizada na Rua 25, no terrível bairro Dona Fiíca. A única coisa boa de se morar no bairro Dona Fiíca é que somos impulsionados a todo momento a mudar de lá. Apesar de nunca ter consultado um analista, acredito que para o meu drama, ele recomendaria um sincero desabafo sobre a minha trágica condição.

Do lado direito da minha casa, mora um típica família brasileira. São evangélicos da Igreja Deus é Amor, conseqüentemente os únicos a terem o direito de morar no céu em todo o quarteirão. O hobby principal da família é o confronto. Quando o marido chega do serviço, a esposa está esperado-lhe devidamente equipada com um rosário de xingamentos. Entram pela noite afora, discutindo. Não carece motivos. Brigam para manter-se ocupados. É uma espécie de terapia de casal. Como não ouvem rádio, não assistem televisão, não vão ao clube e não saem para se divertir ( tudo coisa do demônio), o casal e os filhos brigam para passar o tempo. A esposa, como não fica totalmente satisfeita com os afazeres domésticos e com a disputa matrimonial, se lança a duelos com os vizinhos. Ninguém a ama em todo o bairro. E ainda por cima, de vez em quando é possuída pelo demônio, caindo e quebrando tudo. Mas como o demônio é assunto da própria igreja que freqüentam, prefiro não entrar em perigosos detalhes.

Pois bem. Meus vizinhos da esquerda não ficam atrás. São uma espécie de tribo, onde moram várias famílias de uma mesma matilha. É um amontoado de gente. Cada vez que um membro da prole engravida alguma mulher, a leva para lá, arranja um quarto e cozinha e está formada mais uma família. Antigamente, havia brigas de tapas, facadas, pedradas e até tiros. Agora, estão mais moderados. A única coisa que realmente incomoda da parte deles é o terrível gosto musical e por terem um som muito potente. Todos os dias sou acordado ao som da Banda Calypso, Amado Batista ou Zezé di Camargo e Luciano. Confesso que prefiro os antigos e eficientes galos. Às vezes, os playboys da família resolvem inovar e colocam uma mistura de funk com o detestável DJ Tiago, no último volume, depois da meia-noite. Este que vos escreve vai ao ápice da paciência.

O meu vizinho da frente é um caso freudiano. É o único torcedor do Santos efetivamente que conheço. Ele é uma espécie desses anciãos de trinta e poucos anos. Todos os dias, religiosamente, ele coloca um CD com o hino do Santos para tocar, repetidas vezes. Sem exagero algum, teve um dia que contei desgraçadamente 60 vezes a melodia horrível do time praiano. Se dependesse de mim, o Santos seria rebaixado para a série M-21 do Campeonato Paulista e seria banido do Brasileirão. Detesto o Santos. Agradeço ao meu vizinho por este sentimento. O pior é que ele faz questão de compartilhar no último volume a sua solitária preferência. Que um tremor de terra engula a Vila Belmiro.

Agora, o pior é quando essas três instituições resolvem atacar ao mesmo tempo. Vou-me embora para Pasárgada. Seja lá onde for.

Anderson Alcântara
Enviado por Anderson Alcântara em 11/02/2010
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