Um Baptismo raro
No passado dia 23 de Janeiro senti-me profundamente orgulhoso de ser cristão.
Nesse sábado, pelas 11 horas, baptizei as minhas três filhas na Paróquia de São Joaquim, na Praia do Bispo, em Luanda.
Juntei familiares e amigos e celebramos a imensa alegria de recebermos as minhas meninas na enorme família cristã.
Não seria mais extraordinário do que outro qualquer baptismo se não houvesse, nesse dia e local, um fenómeno raro, raríssimo e até impossível de encontrar em alguns países do mundo.
Entre os amigos tínhamos judeus, muçulmanos, evangelistas e até um ateu.
Os judeus nunca tinham entrado numa igreja antes, nem nas férias, para tirar fotografias. Confessaram que se estivessem em Israel seria impossível estarem presentes num baptizado de filhos de um amigo cristão. Levaram os seus filhos, que assistiram à cerimónia como se estivessem numa viagem de estudo. Ficaram deslumbrados pela simplicidade dos rituais e com as semelhanças com alguns dos seus próprios rituais.
Os muçulmanos nem comentaram, como se se tratasse de um local e momento comum, somente revestido pela importância da cerimónia. No fim, pediram-me para fazer uma pequena oração de bênção às meninas, dizendo que era para lhes desejar boa sorte, alegria e saúde. “Quem meus filhos beija, minha boca adoça!”
Os evangelistas não largavam o ateu. Vá-se lá saber porquê…
Todos se cumprimentaram e beijaram em comunhão conforme se pede a uma família…, qualquer família, cristã ou não.
Naquele dia contaram-se anedotas de judeus e muçulmanos, brincou-se com os sons estranhos que nós fazemos a falar português e impossíveis de reproduzir por eles e até trocamos receitas de sobremesas.
Falou-se de Angola a crescer e falamos da política que bem entendemos com a exaltação que o vinho tinto oferece nas festas.
As crianças brincaram todas juntas e sujaram os vestidos de baptismo na relva do jardim, provocando escândalo às avós. Os padrinhos levaram o fotógrafo de serviço a um ataque de nervos e desdenharam as prendas uns dos outros.
Toda a gente telefonou para familiares distantes a dar as boas novas.
No fim da festa, depois de todos se despedirem e irem em paz para casa, senti uma profunda comoção. Senti que a entrada das minhas filhas para a família cristã havia sido abençoada pelo dom da Tolerância, pelo privilégio da Amizade.