A volta do malandro

Branco, jeans, barba curta e com uma cara muito folgada.

Não se sentou; aboletou-se.

- Quem manda na espelunca?

- Moço, aqui não se manda não. A gente conversa.

- e quem vai trazer a minha lima-da-pérsia? Tem um valente aqui que faz e é conhecida.

- Seu Caio. Vão brigar?

- Mas que brigar, rapaz. Valente não briga com valente. Entra em acordo. Não desconversa. Traz logo minha lima.

- Não é igual a do seu Caio.

- Vai ficar falando nele? Que apito ele toca?

- Ele é poeta...

- Poeta? Cadê o homem? Pago uma nota boa para ele.

Neste exato momento, adentrava no Boteco, sim, Boteco com maiúscula, um cidadão com ar decidido, magro, camisa para fora das calças.

- Bom dia. Ouvi falar no meu nome e em dinheiro.

- Caio?

- É o meu nome. Não vendo poesia. O que o cidadão está querendo?

- Caio, meu compadre, meu irmão. Tinha uma mulher linda. Aquela com um verso bonito, volta.

- Que coisa é essa, rapaz? Já andou tomando umas manguaças por aí.

- E não é para tomar? Olha o retrato dela aqui.

Mostrou o retrato. Mulher linda, olhos de quem está pedindo amor, boca chamando para um beijo de horas. Caio olhou o retrato cuidadosamente, era fotógrafo também. Precisava tomar cautela para não despertar ciúme no valente. Seria ruim.

- T’aí. Escrevo um poema sim. Se ela voltar avisa.

Escreveu o poema. Entregou. Mas não fez a batida. O malandro havia voltado para o Boteco.

Para a alegria de todos,

Jorge Cortás Sader Filho
Enviado por Jorge Cortás Sader Filho em 10/02/2010
Reeditado em 10/02/2010
Código do texto: T2080527
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