A volta do malandro
Branco, jeans, barba curta e com uma cara muito folgada.
Não se sentou; aboletou-se.
- Quem manda na espelunca?
- Moço, aqui não se manda não. A gente conversa.
- e quem vai trazer a minha lima-da-pérsia? Tem um valente aqui que faz e é conhecida.
- Seu Caio. Vão brigar?
- Mas que brigar, rapaz. Valente não briga com valente. Entra em acordo. Não desconversa. Traz logo minha lima.
- Não é igual a do seu Caio.
- Vai ficar falando nele? Que apito ele toca?
- Ele é poeta...
- Poeta? Cadê o homem? Pago uma nota boa para ele.
Neste exato momento, adentrava no Boteco, sim, Boteco com maiúscula, um cidadão com ar decidido, magro, camisa para fora das calças.
- Bom dia. Ouvi falar no meu nome e em dinheiro.
- Caio?
- É o meu nome. Não vendo poesia. O que o cidadão está querendo?
- Caio, meu compadre, meu irmão. Tinha uma mulher linda. Aquela com um verso bonito, volta.
- Que coisa é essa, rapaz? Já andou tomando umas manguaças por aí.
- E não é para tomar? Olha o retrato dela aqui.
Mostrou o retrato. Mulher linda, olhos de quem está pedindo amor, boca chamando para um beijo de horas. Caio olhou o retrato cuidadosamente, era fotógrafo também. Precisava tomar cautela para não despertar ciúme no valente. Seria ruim.
- T’aí. Escrevo um poema sim. Se ela voltar avisa.
Escreveu o poema. Entregou. Mas não fez a batida. O malandro havia voltado para o Boteco.
Para a alegria de todos,