Anjo Lindo.
Anjo Lindo.
Mauro trabalhava há cinco anos, como coveiro no Cemitério de Irajá. Passando por uma infância muito pobre, conseguiu com muito esforço e dedicação, terminar o curso secundário.
Depois de algum tempo correndo atrás de emprego sem resultado, resolveu aceitar o emprego de coveiro.
As irmãs, Carla e Denise, costumavam brincar com ele: -Mauro coveiro! Cuidado que um defunto ainda vai puxar as suas pernas! – E davam gostosas gargalhadas!
-Eu não sou coveiro – rebatia Mauro – Eu sou “construtor de moradas definitivas!”
Mauro, a princípio, tinha vergonha do serviço. Mas com o tempo, passou a gostar. O salário era relativamente bom e os colegas de profissão eram muito camaradas. E ninguém reclamava do serviço!
Com 21 anos, sentia-se quase feliz. Só lhe faltava uma coisa: Um amor.
Mauro teve algumas namoradas, mas elas sumiam, quando descobriam a sua profissão. Então, decidiu que não ia mais correr atrás do destino. Esperaria calmamente, que ele lhe trouxesse um grande amor.
Já estava quase desanimando, quando a viu!
Ela era linda! Parecia um Anjo! Seus cabelos louros caíam como uma cascata pelas costas!
Seu corpo esbelto e elegante, suas pernas longas e seus pés calçados com sandálias formavam um conjunto belo e harmonioso!
O vento brincava com a barra do seu vestido branco.
Ele estava extasiado! Precisava avisá-la que o portão já ia fechar. Aproximou-se devagar, com medo de que ela fosse uma miragem e sumisse de repente.
-Boa noite, moça. – ele disse – Ela o olhou com os olhos azuis, mais tristes que ele já vira. Seu rosto estava banhado em lágrimas. Olhava com profundo desespero, para a fotografia de um homem na sepultura de número 1280. Mauro ficou penalizado.
Senhora -ele disse – Venha. Sente-se um pouco ali. – apontou para o banco de mármore.
-Obrigada – ela respondeu, enxugando as lágrimas.
-Era o seu marido? – ele perguntou, sem jeito... – Não. – ela disse – Era meu irmão.
Ela então contou toda a sua estória: Chamava-se Diana.
Ela e o irmão, Danilo, cresceram em um orfanato. Nunca conheceram os pais, nem outros familiares. Danilo foi sempre muito doente, e Diana sempre tomou conta dele. Quando saíram do orfanato, Diana tentou arranjar um emprego que lhe permitisse cuidar do irmão. Só conseguiu emprego de doméstica, na casa de um homem viúvo, que vivia lhe assediando. Com jeito, conseguia sempre se esquivar. O patrão era cínico, mulherengo e grosseiro e Diana só suportava as investidas dele, por precisar do salário.
Até que Danilo piorou e precisou ser internado. Diana estava desesperada e o patrão, Ciro, pediu-a em casamento. Prometeu pagar todo o tratamento de Danilo!
Diana aceitou, pois o tratamento de Danilo era muito caro. Ela suportou dia a dia, o tormento daquele casamento. Ciro era um déspota! Tratava-a com a tirania de um senhor de escravos! Diana sofria calada! Seu irmão tinha sido transferido para um excelente hospital, e isso é que importava!
Estava casada há um ano, quando Danilo morreu! Não suportando mais, Diana fugiu do marido!
E assim, conhecendo toda a dor daquela mulher, Mauro se apaixonou.
Diana vivia fugindo do marido! Ele era louco e ela tinha muito medo dele.
Mauro e Diana se apaixonaram loucamente! Passaram a se encontrar sempre no mesmo lugar, à mesma hora. Todos os dias!
Mauro não podia comentar com ninguém esses encontros. Havia sempre o medo de que Ciro a encontrasse. Mas os meses se passaram e ele estava ansioso.
Queria viver um amor real com Diana! Queria tomá-la em seus braços, dormir e acordar com ela! Beijos e abraços já não o satisfaziam! Queria gritar para o mundo inteiro o quanto a amava!
Disse-lhe tudo o que estava sentindo! Ele enfrentaria o Ciro e o mundo inteiro, se fosse preciso! Pediu a Diana que ficasse definitivamente com ele.
Ela olhou-o de modo muito triste e disse: -Por favor, vá embora! Preciso pensar!
Achou melhor não insistir! É claro que ela precisava pensar! Mas o amor dos dois era mais forte que tudo! Mauro sabia que ela faria o que ele pedira.
No dia seguinte, não a encontrou! Ficou apavorado! Teria o Ciro a encontrado? Procurou por ela no cemitério durante uma semana! Mauro estava desesperado! Não sabia onde procurar! Ele não tinha nenhum endereço nem telefone para contato! Resolveu se acalmar e esperar. Tinha certeza que ela daria notícias.
Alguns dias depois, um homem de meia idade, com uma expressão muito cansada, apareceu procurando a sepultura 1280. Danilo não tinha parentes e Mauro desconfiou que fosse o Ciro!
Levou-o até a sepultura e perguntou: -era seu filho?
-Não. Era meu cunhado. –ele respondeu – Foi uma fatalidade! Ele estava seriamente doente. Eu estava apaixonado pela irmã dele, pedi que ela se casasse comigo, em troca, eu pagaria todo o tratamento que ele precisava. Ela aceitou. Eu era muito mais velho e morria de ciúmes da beleza e juventude dela! Pobrezinha! Nunca lhe disse o quanto eu a amava!
-O que aconteceu? – Mauro perguntou.
-Danilo morreu e Diana se foi! E eu perdi a única mulher que realmente amei!
Ciro tinha os olhos molhados de lágrimas. Então, Mauro compreendeu que Diana não estava com ele.
-Pode me mostrar a sepultura de número 3.000? – Ciro perguntou.
- Claro! – Mauro respondeu, enquanto o levava até uma sepultura logo à frente.
Sabe, meu rapaz, a minha vida sem ela não tem nenhum sentido – Ciro disse.
Mauro precisava saber onde estava Diana. Sem se conter, perguntou: -O senhor disse que perdeu a sua esposa. Não sabe onde ela está?
-Sei sim. Ela está aqui! – Disse apontando a sepultura.- Matou-se após a morte do irmão!
Na sepultura caiada, um sorriso triste resplandecia na fotografia da mulher que Mauro amava...
O belo sorriso de Diana!
Nilda Dias Tavares.
E-mail: gitana45dias@yahoo.com.br