Tipos estranhos na minha cidade

TIPOS DA MINHA CIDADE

Quando eu era criança havia uns moradores complicados na minha cidade que ficaram na minha memória.

Um deles era o Dormirio. Esse morava na roça. Todos os sábados ele vinha à cidade, comprava ossos para sopa, bebia muita pinga e ficava andando pelas ruas da cidade gritando: “sou delegado de Guiricema.” Todas as crianças inclusive eu morriamos de medo dele.

Outro tipo estranho era um velho de nome João Costa. Diziam que ele tinha sido músico e enlouqueceu. Ele andava com umas partituras amarelas e um pedaço de pau. Como era difícil conviver com o mau cheiro dele, de vez em quando um morador da cidade dava um banho nele. Diziam que ele era lavado num córrego da cidade. Ele sempre pedia comida na minha casa e minha mãe dava lhe um prato de comida. Minha mãe era caridosa.

José Lopes era um bêbado que havia estudado. Ele repetia sempre as frases: “saber é bom. De tanto saber, não sei mais nada”.

Maria Amélia. Era uma velhinha muito pobre. Ela vinha pedir comida para minha mãe. Minha mãe dava lhe um prato de comida. Ela vestia roupas muito velhas e sujas. Ela trazia consigo uma sacolinha de pano bem suja. Ela punha um pouco de comida que ela ganhava e dizia que era para levar para sua filha. Sua filha era mulher da linha. Mulher da linha na minha cidade era prostituta. Elas moravam perto da linha do trem, por isso eram chamadas de mulher da linha, ou mulher a toa.

Minha cidade é muito pequena. Mas na época em que viveram esses tipos ela era muito menor ainda. Apesar da cidade ter essas pessoas complicadas, ela era melhor do que hoje, pois naquela época não havia traficantes e drogados.