ALCIDES: AS BALAS QUE MATARAM SONHOS!

Por CArlos Sena



Cadê as balas que mataram Alcides? A que matou Getúlio ficou na história do Brasil, mas as que mataram Alcides pra onde foram? As de Alcides foram com ele, como foram com ele, o coração da sua mãe e o desespero dos sem esperanças num país mais justo. Sua mãe quase foi junta, o Reitor chorou, eu chorei. A nação perplexa chorou a bala que não cala, mas que fez Alcides calar. O silêncio dos inocentes não alcança os indecentes feitores da nação gigante, donde o esplêndido berço, não garante o terço do rosário de lágrimas da mãe de Alcides. Como chamá-la neste réquiem da desilusão consentida? Sei o nome de Alcides, mas não sei o da sua mãe, mas não preciso saber. Coração de mãe não tem nome, basta-se no codinome de Nossa Senhora. Lá fora a notícia alardeia, mas o silêncio logo cala. O político não fala, a nossa lei falha, o nosso rei farfalha.
Um tiro no escuro. Dois tiros do preto. Um tiro preito que a gratidão ignora.
Cata lixo, senhora! Teu lixo não catarás! O jaleco branco está sujo pela nossa farsa: o político acha graça, o jurista não se empenha, o juiz desdenha da nossa vocação de avestruz. Cata lata, cata lixo, cata o carrapicho maculador do jaleco do doutor. Reza, senhora, pois só isto te resta. Na brecha da porta, há letras mortas escritas nas frestas das nossas culpas! Reza senhora! Prazo aos céus que não seque teus prantos. Eles certamente te libertarão, enquanto a gente continua nesse vídeotape do”mata-mata”. Até que um dia, talvez, o sonho de ser honesto não alinhave destino tão funesto; como se viver fosse apenas entregar ao destino um sonho singular de menino pobre cuja mãe catava lixo.
A bala que matou Getúlio ficou na história. A história de Alcides ficou na bala, sem memória. Amanhã será outro dia e outros Alcides virão. E a imprensa virá, e a justiça dirá que há leis de mais, o governador dirá que as pesquisas vão dizer, enquanto a polícia prende dizendo que a justiça solta.
Meia volta volver! Bato em continência minha inclemente indignação. A violência da rua tem nome de bala, de faca, de chucho. Lá no congresso ela tem nome pomposo de excelência. Uma “incelença“ quero cantar para Alcides! As carpideiras precisam entoar dolente cantiga para ele seguir em paz.
A mãe dele precisará de quê se está morta em vida? Vida Severina, certamente. Cata lixo minha senhora, senhora minha o lixo cata. Recolhe teus cacos que a vida deverá colar. A vida não foi pra ti faculdade, mas pro teu filho foi álibi que a sabedoria endossa. O trajeto ficou no meio, como se a vida dos simples só tivesse direito a metade. Alcides morreu doutor e é assim que todos sentem. É assim que os sinos da Torre badalam, como que bradando que mudem as leis do país. Porque por um triz a gente vive como se um risco fosse na lousa fria, parecido com o do menino que o destino quis para compor sua insensatez...

Carlos Sena - csena51@hotmail.com