INCOMODA QUEM SE INCOMODA
Quem nunca ouviu falar ou já sentiu na própria pele que em muitos ambientes de trabalho ou no convívio social é necessário matar um leão por dia – expressão que denota luta pela sobrevivência em lugares hostis – talvez não se sinta atraída a ler as linhas abaixo... Quem já sentiu as intempéres da vida cotidiana, sobretudo relacionadas aos diversos perfis comportamentais fique à vontade para opinar e até mesmo desabafar. Tenho uma novidade: você não está só!
Após um dia exaustivo no trabalho onde literalmente pode mais quem chora menos e grita alto demasiadamente, retorno para casa e tomo um banho para relaxar. Tomo um copo de leite para manter estabilizado o índice de cálcio no meu organismo, já que meu pequeno hóspede tem sugado minhas reservas e vou para a sacada, a fim de desligar um pouco da minha vida profissional e me permitir ser apenas eu mesma, Patrícia, observo displicente, o cenário ao meu redor, do alto do 6º andar onde moro. Cercada por paisagens paradisíacas do clube de piscinas próximo ao edifício onde moro mescladas em meio aos demais edifícios próximos, vi que um de meus vizinhos se incomoda com minha presença e fecha as persianas de seu apartamento. Eu nem estava reparando em sua intimidade, mas quando ele denotou desconforto com minha presença, aí sim chamou minha atenção. Passei a refletir sobre sua atitude: quantas vezes eu mesma também me senti incomodada com a presença ou opinião alheia acerca do que sou ou do que penso... Indubitavelmente, óbvio, cheguei a uma conclusão: só incomoda quem se incomoda.
Meus colegas só incomodam se eu me incomodo com suas opiniões e atitudes em relação a mim. Meus vizinhos só me incomodam se eu me incomodo com suas presenças ou olhares – muitas vezes indiscretos – mas talvez displicentes ou meramente curiosos. Ninguém invade meu espaço e privacidade se eu assim não lhes permitir. Ninguém possui uma opinião mais forte do que a minha porque grita mais alto – sou inteligente, estrategista e politicamente correta – minha arma é outra: poder de argumentação e, por conseguinte, forte persuasão. Tudo isso na sutileza, sem aumentar sequer um decibel da minha voz ou demonstrar atitudes afetadas. Já passei dessa fase: ela ficou na infância, azar será de quem ainda não se livrou desse tipo de atitude mesquinha. Pra tudo na vida existe uma solução; só não existe solução para a morte, que por si só já é uma solução ao extinguir a própria vida. Daí por diante os desafios e problemas se acabam.
Por isso é que ratifico: se você também é um sobrevivente, passe a deixar de ocupar este espaço cômodo e passe a ser agente de sua própria existência: viva em vez de sobreviver e saiba que se você deixar de SE incomodar, todos os demais se obrigarão a parar de LHE incomodar. Só depende de você mudar sua atitude em relação às pessoas para que elas também possam fazer o mesmo por você. Na sabedoria popular: viva e deixe viver. O resto é incômodo desnecessário.