O MONGE. A VIDA E A MORTE.

Depois de mergulhar em seu interior por toda uma vida buscando respostas para sua permanente procura além de simplesmente existir e ser, viver enfim, um monge abriu as portas de seu recolhimento a todos aqueles que com ele pretendessem esclarecer passagens e fenômenos do curso da nossa existência.

E sucederam-se visitas e questionamentos, respondendo o que lhe foi perguntado e contando histórias reflexivas..

SOBRE A MORTE.

Um casal que tinha um filho muito doente perguntou sobre a morte e ele disse:

A morte é o fim de uma vida e o seguimento da vida. É o fim da busca incessante de uma energia maior, Deus, quando ainda somos existência de vida material, corpórea, até esse encontro em nosso interior. É o seguimento de matéria na transformação serena e bela da natureza. São assim, a morte e a vida, uma e a mesma coisa. São dois estados de um mesmo acontecimento, elos de uma mesma corrente.

A vida do ser humano é a primeira e única razão de sua passagem material no planeta em que vive, sendo origem, berço e fonte de todos os outros valores que a ela se agregam nas variantes do sentimento e da emoção, marcando a vibração forte da existência, conseqüência do gesto infinito da criação pelo amor que se realiza no encontro dos desejos e vontades sustentados em afinidades, como a flor que se ama através do pólen no leito dos ventos.

Sendo seguimento e transformação, a vida é da mesma forma que a árvore, raiz, caule, flor e fruto, sendo antes semente que germinou da terra, do pó que tudo concentra. A vida é tudo isso excluindo-se desse ciclo somente a energia espiritual que vive no ser humano. O espírito, a alma, nossa principal energia, é alicerce principal de nossa breve permanência animada pelo oxigênio que respiramos, demonstrando essa força interior que nos alcança e movimenta, que somos mais que pó animado, somos força de pensamento, espírito, volatilidade da alma, destinados a espaços grandiosos de luz e cor.

Não há morte, mas vida em outras formas. Viemos da eternidade e ela é nosso destino, pertencemos sempre à eternidade.

Há de ser vista a morte como o final que se renova, desfecho de uma caminhada que será lembrada pelas suas obras, um ponto do verdadeiro encontro com a significação maior da vida em corpo. Devem ser entendidos os ciclos. Nascemos. Não pedimos para vir nem sabemos quem fez a iniciação da viagem. Por um milagre que nada nem ninguém explica chegamos.

De onde viemos será eterno mistério, o enígma que desafiou e desafia as mais notáveis inteligências na história do homem, no desencontro sem encontro de múltiplas explicações. E chegamos, inconscientes, vista pardacenta, sem distinguir com precisão imagens.

Não participamos desse jogo que iniciou a viagem sem nossa colaboração, embora sejamos a meta principal e mais importante do jogo, as trocas do amor.

Com a chegada dos primeiros vestígios da consciência saímos das trevas para a luz, os primeiros sinais. Começamos a enxergar figuras gigantes que rodeiam nosso berço, estão sempre presentes, nos trazem proteção, alimento e conforto; nossos pais.

Estão marcadas as personagens a que se deu o nome de família, o centro de tudo e de todas as aspirações. O nascido irá enfrentar o fenômeno envolvente e concentrador de todas as mudanças de sua existência chamado vida.

Por circuntâncias alheias à vontade do viajante, que não pediu para viajar, não sabe como partiu nem de onde, desconhecendo por toda sua jornada o veículo e sua origem, muitos caminhos serão caminhados. Para uns de muita sorte, plenos de abundância, dons, inclinações, talentos e riquezas. Outros medianamente recompensados pela viagem encetada sobreviverão.

Muitos sofrerão por essa destinação desconhecida que joga na vala comum a desordem material que nada dá, nunca provê, tudo sonega e retira o pouco que sobraria do muito dos que muito têm. Se houver ordenação espiritual a materialidade será sublimada no cume da montanha que descerra a paz.

Destino, fatalidade da viagem viajada sem consciência e conhecimento, apanharam os nascidos na volúpia da maior força, generosa, movimentando toda a natureza; o amor.

Resta a certeza que a origem é única e por isso desconhecida, embora diversos os viajantes, seus destinos e futuras existências, sofridas ou não, a indicarem uma irmandade de chegada pela verdadeira certeza da incerteza, a morte, bem como o desconhecimento originário, etiológico, a nos dar a precisa, exclusiva e única explicação: iremos nos transformar um dia em outra matéria.

Celso Panza
Enviado por Celso Panza em 09/02/2010
Reeditado em 09/02/2010
Código do texto: T2077321
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