A verdadeira história do Cravo e da Rosa
O Cravo e a Rosa
O cravo brigou com a rosa
Debaixo de uma sacada
O cravo saiu ferido
E a rosa despedaçada
O cravo ficou doente
A rosa foi visitar
O cravo teve um desmaio
A rosa pôs-se a chorar
(Cantiga de roda)
Copo de Leite era um negro forte como um touro que, pela largura dos ombros, lembrava um armário de 4 portas, todas elas abertas.
Há tempos viviam, ele e Margarida, um romance tumultuado, cheio de brigas e de desconfianças.
A última briga tinha mesmo sido feia. E de lá pra cá, não estavam se falando e nem mesmo se vendo.
Copo de Leite engrenou então na bebida. Passava horas a fio, debruçado no balcão do boteco, de onde invariavelmente saía bêbado.
D. Petúnia, mãe de Margarida, que desaprovava o namoro, vez ou outra resmungava entre dentes:
- Melhor só que mal acompanhada!
As pessoas procuravam por Margarida:
- Deixa de dengo, Margarida! Poxa, vocês se amam! Volta logo pro teu homem!
E a Margarida respondia sem pestanejar:
- Não é a Margarida que ele ama, não. É bem de outra flor que ele gosta!!! Passa a maior parte do tempo agarrado é com a tulipa, se entupindo de cerveja no boteco! A mim ele não dobra! Enquanto não parar de beber, não tem volta!!!
Então iam ter com Copo de Leite:
- Ela disse que enquanto você não parar de beber não tem volta!
E o guarda-roupa já tonto:
- Pois só deixo de beber quando ela voltar pra mim! Mulher minha eu trago é no laço !!!
Pronto. Estava estabelecido o impasse!
E assim foi passando o tempo, sem que os dois teimosos arredassem pé de suas convicções.
No início ninguém se aproximava de Margarida, por respeito a Copo de Leite.
E ninguém se aproximava de Copo de Leite por respeito à Margarida.
Mas os meses foram passando... passando... e, por fim, Léa, que na verdade se chamava Azálea e que sempre fora apaixonada por Copo de Leite, rompeu com seu namorado - um sujeito chamado Antúrio - e aproximou-se de Copo de Leite.
Por sua vez, Lírio, um sujeito loiro e perfumado, encheu-se de coragem, esqueceu-se de Copo de Leite e começou a cortejar Margarida.
Quando Copo de Leite tomou conhecimento do que estava acontecendo, foi tirar satisfações com Lírio, que, apesar de bonito e perfumado, não era flor que se cheirasse não.
Houve discussão e muita quebradeira, no boteco do Tinhorão, e no fim da briga e dos gritos, havia sangue por todos os lados.
Lírio não resistiu aos ferimentos e deu adeus ao morro e aos irmãos. Copo de Leite saiu dali fugido.
Dizem que Margarida e Copo de Leite nunca mais se viram.
Margarida caiu na vida. Hoje tem Rosa por codinome, e virou dama da noite.
Copo de Leite, segundo consta, adotou a alcunha de Cravo, e acabou preso e esquecido no fundo de uma cela no subúrbio.
Pecaram pelo orgulho ferido. Erraram pela intransigência e incompreensão.
Hoje, ela em um canto ele no outro, são errantes, desolados, solitários e sem porvir.
Vivem, cada qual ao seu modo, desfolhando bem-me-queres em busca de auto-afirmação.