Patricia no país da intolerância
Seria muito bonito se tudo o que acontecesse em nosso país fosse apenas mera ficção, uma similitude em alusão ao clássico infantil.
É impressionante que em pleno século XXI existam ainda tantas formas de preconceito, algumas ocultas, outras um tanto quanto escancaradas, vindas espantosamente por quem se julga do alto escalão das letras e da intelectualidade -pseudo-intelectualidade- diga-se de passagem.
Muito me indigna que em meu país “livre e democrático” isso possa permanecer e todavia virar motivo de escracho e deboche por muitos – Skinheads, Ku Klux Klan, Hitler não eram engraçados- preconceito não tem graça.
Muitos homossexuais, negros, judeus, sofreram perseguições, foram torturados e mortos, espere aí, eu disse judeus? E não foi justamente um judeu, que por natureza, já sofrem por serem considerados por nossa sociedade como sendo parte de uma “minoria”, nossa tão cruel e hipócrita sociedade que se senta no trono de glória como no “Juízo Final” magnânima e déspota simultaneamente, e que onipotente, separa o joio do trigo, o rico do pobre, o feio do bonito, a direita da esquerda, a “Sociedade-Deus” que separa almas que vão pro inferno e as que vão pro céu, pois bem, pois o mesmo foi o responsável por um absurdo caso de preconceito recentemente protagonizado em nossa TV, o então “conceituado” jornalista Boris Casóy.
Depois de ouvir a mensagem de feliz ano novo de dois garis no dia 31/12/2009, e pensando já estar fora do ar, simplesmente disse palavras cruéis e jocosas contra essa tão batalhadora classe trabalhadora de nosso país, essa mesma classe que trabalha de sol a sol para limpar a nossa sujeira, e que, muitas vezes de madrugada, passam recolhendo o lixo das casas, enquanto muitos “poderosos” dormem, pra no dia seguinte botarem mais dinheiro na cueca e nas meias.
Essa mesma é a sociedade que não compartilha igualitariamente a renda com seus filhos, filhos da pátria amada, e então, quando os “poderosos” despertam de seu sono, seu lixo já foi recolhido, já não existem mais moscas e podridão em sua porta, apenas em sua alma, porque esse tipo de sujeira humana ninguém consegue limpar.
Onde está o programa CQC (Custe o que Custar) nessa hora? Cadê o Marcelo Tas? O Danilo Gentili? Sempre tão rápidos e afiados em seus comentários contra a TV, a hipocrisia e a política? Será que é tudo mídia? Fachada? Cadê o “Top Five” com a gafe do Boris? Será que se tratam apenas de falsos anarquistas e descolados? Ou será que invés de CQC resolveram entrar também por CCC (Comando de caça aos Comunistas) onde o mesmo Boris supostamente fez parte?
Será que se venderam ou foram calados porque fazem parte da mesma emissora do referido jornalista? Quanta decepção...
É certo que muito já foi falado a respeito desse assunto, é preferível levar o assunto a exaustão que ao esquecimento.
Sinto-me no direito de fazer-me ouvir, vamos gritar, antes que tentem calar a nossa voz uma vez mais. Repressão? Viva a liberdade de expressão!
Vamos dizer NÃO a impunidade, em pensar que é mais fácil o operador de áudio ser demitido pela falha que um jornalista por sua gafe.
Sim, “é preciso passar o Brasil à limpo”, mas que pra isso não fique apenas no bordão, é preciso ação, não toleremos mais a intolerância, porque é possível viver com a diferença, mas não com o preconceito não.
Isso sim “é uma vergonha”. E como diria Renato Russo, homossexual e um dos maiores poetas da música dos últimos tempos, em trechos de sua canção ...” Vamos celebrar,,, nossa política e televisão, e nosso estado que não é nação...Vamos celebrar nossa justiça, ganância e difamação, Vamos celebrar os preconceitos...Nosso castelo de cartas marcadas, o trabalho escravo...Toda hipocrisia e toda afetação, todo roubo e toda indiferença...Vamos alimentar o que é maldade, vamos machucar o coração, Vamos celebrar nossa bandeira, nosso passado de absurdos gloriosos...Vamos cantar juntos o hino nacional...Vamos festejar a inveja, a intolerância e a incompreensão, vamos festejar a violência e esquecer da nossa gente, que trabalhou honestamente a vida inteira e agora não tem mais direito a nada, vamos celebrar a aberração de toda a nossa falta de bom senso...Vamos celebrar o horror de tudo isso- com festa, velório e caixão ...Venha meu coração está com pressa, quando a esperança está dispersa, só a verdade me liberta, chega de maldade e ilusão, venha o amor tem sempre a porta aberta e vem chegando a primavera, nosso futuro recomeça, venha que o que vem é perfeição... Amém.
Patrícia G. Rios
26 anos
Cidadã Brasileira.