Palavras de Quinta (BVIW)
Sim existem as palavras de primeira linha. Aquelas que são usadas em discursos políticos exaustivamente pensados antes de redigidos. As palavras de contratos jurídicos e as repetidas pelos noivos nas juras de amor antes do casamento. Essas palavras pomposas, são palavras de primeira. Palavras de quinta são aquelas nunca escritas em poemas, faladas em discursos ou cantadas em baladas de amor.
Imagine se em um discurso político o candidato diz: “-Vamos melhor à qualidade da alimentação do brasileiro! A vaca e o torresmo vão ficar acessíveis o ano inteiro. E quando eu for eleito, ninguém irá mamar na teta do governo".
Apenas Drummond usou uma palavra de quinta :vulva, em sua poesia:
"Amor – pois que é palavra essencial
comece esta canção e toda a envolva.
Amor guie o meu verso, e enquanto o guia,
reúna alma e desejo, membro e vulva."
Entre tabefes e beijos não soaria como boa melodia em uma canção.
Algumas palavras realmente foram amaldiçoadas na sua criação, ou queimaram no caldeirão de letras antes de formadas para o Aurélio. Mesmo com toda poesia de Drummond não daria par usar a palavra sovaco num poema. Shakespeare que era inglês, mesmo se fosse brasileiro, não usaria a palavra cafuné no texto de Romeu e Julieta, ou Otelo. A medicina que costuma dar nomes hilários a doenças não seria capaz de absorver o uso do termo furúnculo, nem é possível imaginar a criação dessa palavra.
De certo algumas palavras são de quinta, e difíceis de embelezar na literatura, mas não perdem a utilidade, porque nem só de beleza viver a literatura.