As dúvidas de cada um

AS DUVIDAS DE CADA UM


“Porque Deus amou o mundo de tal maneira que deu o
seu Filho unigênito, para que todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna.” João 3:16

Um dia, que não programamos, nem agendamos em banco, como contas-a-pagar futuras, a gente é surpreendido pela morte; fechamos os olhos de uma vez por todas, aliás, alguém fecha-os por nós; morremos disso ou daquilo, que pode ser um mal súbito, isto é, uma síncope cardíaca, um derrame cerebral; ou de um câncer dos mais variados que andam por aí afora, infernizando a vida de cientistas, impotentes em suas constantes pesquisas. Baixamos à sepultura, partimos daí para a duvidosa vida eterna.

Muito bem! Mas agora vem a pergunta dos incrédulos, dos céticos, ou dos materialistas: o quê está reservado para nós, então “espíritos”, nesse momento da separação da carne ou depois de algum tempo, até que se desfaça da matéria pútrida, restando somente a ossada, que agora só serve para estudos de anatomia nas escolas de medicina? Seremos nós as mesmas criaturas, desprovidas, pois, do nosso arcabouço corporal, que vai se transformar em pó, que, nem sei, servirá de fertilizante, já que vivos, muitos de nós, praticamos tantos erros, mais erros do que acertos, que dá pra pensar se seremos úteis como estrume. Será que nos modificamos, nos transformamos de imediato em formas, digamos, gaseificadas, translúcidas e autotransportáveis, livres de quaisquer obstáculos pelos muitos quadrantes da vida espiritual, assim como o pensamento, que “viaja” pelo universo?

A morte é “o descanso”, dizem os crédulos, aqueles que, nas igrejas, católicas ou evangélicas, ouvem atentos sermões ou pregações que, em suma, dizem da felicidade de, um dia, participarem das maravilhas da eternidade, onde não haverá mais dores nem qualquer outro tipo de sofrimento. Outros, amantes da vida, retrucam, meio apavorados, no mesmo refrão: “se a morte é descanso, prefiro viver cansado”. E daí vem a luta constante para fugir do “paraíso eterno”, procurando-se, de um jeito ou de outro, livrar-se do “éden” espiritual, aonde ninguém, de bom grado, quer ir habitar. De sã consciência, poucos são os que aceitam tal mudança. E por isso, na luta desesperada para se manterem vivas, bem vivas, os consultórios-médicos, os nosocômios continuam repletos de pessoas em busca de meios: novos medicamentos, novas práticas médicas, aparelhagens sofisticadas de última geração para que as suas vidas não sejam abreviadas. E por que tanta apreensão, tanto desespero para viver se “a morte é um descanso”, segundo alguns, e, como recompensa, caso não tenham cometido atrocidades, estarão à direita do Pai no Paraíso Celeste?

A eutanásia não é oficializada ainda em muitos países, inclusive o Brasil, não se permitindo, nem àqueles cancerosos, em fase terminal, partirem logo para o “descanso eterno”, onde não há mais sofrimento, mas só “delícias celestiais”. Seria uma boa e louvável medida para nos livrar do carma terreno, do destino muitas vezes maldito que estamos experimentando, condenados em leitos de hospitais, para entrarmos noutra dimensão privilegiada, longe das agruras, das desgraças por nós mesmos praticadas. Mesmo assim, poucos são os que a si permitiriam tal medida, tomados que estivessem em estado comatoso, em inconsciência profunda. E os que os cercam, impedidos de praticá-la, geralmente, por legislações arbitrárias de muitos países do mundo ocidental. Esses, na verdade, estimariam partir para a outra, para a vida “espiritual”. Com certeza.
Outros, aqueles que, angustiados, apavorados, aguardam no corredor-da-morte nos presídios dos Estados Unidos, ou de outras reclusões em penitenciárias de países que também matêm a pena de morte como castigo máximo para os crimes hediondos, o dia fatídico do seu extermínio, seja por fuzilamento, em câmara de gás, na cadeira elétrica, por injeção letal, ou por enforcamento, esses, provavelmente, não aceitam, acredito, a morte como o caminho para alcançar “os céus”. Consideram-se perdidos. A vida lhes era tudo. A morte é o fim. Tudo acabou. Senão, imitariam, mais ou menos, Jesus no Calvário, dizendo de si para si que tudo estava consumado e que, logo, estariam no “céu”.

As dúvidas de cada um, estou convicto, seja cristão (com algumas exceções), muçulmano, budista ou seja lá o que for, esses ou aqueles, creiam ou não que Jesus Cristo, Maomé ou Buda são salvadores de almas, essas incertezas estão arraigadas, como vísceras indestrutíveis, ao pensamento do homem, e como seres humanos, vivos, e não como almas ou espíritos, embora que “candidatos” sejam, não sabem, deveras, o quê vão desfrutar nesse mundo que nenhuma explicação plausível há a respeito, não obstante as teorias espirituais de Allan Kardec.

Pablo Calvo
Enviado por Pablo Calvo em 07/02/2010
Código do texto: T2074979
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