CARNAVAL EVÉM AÍ

Eu definitivamente não gosto de carnaval. Não gosto mesmo e ... acabou-se. Ninguém vai me botar na cabeça que esse negócio de pular, dando cotoveladas, sassaricando como o diabo, molhando a camisa no corpo, presta, não.

De dançar eu gosto muito. Mas é dançar, na mais alta acepção do termo. Em ambiente distinto, com boas músicas, com belas garotas, etc. – Até penso que a dança faz parte da educação. Mas, carnaval ... – Tem a santa paciência. Não serve, não!

Contudo, não adiantam lamúrias porque ele vem mesmo. Já nos clubes se promovem os tradicionais “gritos carnavalescos”, com franca adesão de foliões.

As casas de quinquilharias abarrotam antecipadamente suas prateleiras com artigos para os festejos momescos:- lança-perfumes, apitos, confete, serpentinas, etc. – As lojas expõem desde cedo as mais variadas fantasias. As ruas estão cheias de gente, como formigas, num lufa-lufa medonho.

No morro, as escolas de samba preparam os seus pupilos. Os tamborins, as cuícas, os surdos e taróis esticam os couros aprontando-se para o fandango.

Crioulos lustrosos, malandros de gafieira, ensaiam os seus complicados “passinhos”, procurando aperfeiçoar-se ao máximo para, no grande dia, encabular o público das ruas com as suas vibrantes exibições. E as mulatas, então? ... Coisa de louco!

As rádios distribuem com estardalhaço as novas músicas para a folia deste ano. O povo, em casa, procura afoito decorá-las para entrar no clima de vez.

É o mesmo ambiente de todos os anos. Sempre começa assim. Muito entusiasmo, muita alegria, todo mundo delirando! Depois ... – Bem, depois vem o balanço trágico:- tantos suicídios, agressões, bebedeiras, atropelamentos, perdições, etc. .

As lágrimas correrão novamente de muitos olhos, rolando por muitas faces. Mas depois, somente depois. Agora não!

Agora, é como disse aquele folião do último “grito” por mim presenciado num clube do bairro:- agora “O carnaval evém aí, colega! Mete bronca, tá pra nós! ...”

-o-o-o-o-o-

B.Hte., 1958