VOZES DA SECA - Uma Crônica Atual
Vozes da Seca
Luíz Gonzaga
Composição: Luiz Gonzaga / Zé Dantas (1953)
Seu doutô os nordestino têm muita gratidão
Pelo auxílio dos sulista nessa seca do sertão
Mas doutô uma esmola a um homem qui é são
Ou lhe mata de vergonha ou vicia o cidadão
É por isso que pidimo proteção a vosmicê
Home pur nóis escuído para as rédias do pudê
Pois doutô dos vinte estado temos oito sem chovê
Veja bem, quase a metade do Brasil tá sem cumê
Dê serviço a nosso povo, encha os rio de barrage
Dê cumida a preço bom, não esqueça a açudage
Livre assim nóis da ismola, que no fim dessa estiage
Lhe pagamo inté os juru sem gastar nossa corage
Se o doutô fizer assim salva o povo do sertão
Quando um dia a chuva vim, que riqueza pra nação!
Nunca mais nóis pensa em seca, vai dá tudo nesse chão
Como vê nosso distino mercê tem nas vossa mãos
Ao ler o texto " Pobreza Desconfigurada" do nosso amigo
Miguel Jacó, me veio à lembrança a música de Zé Dantas e Gonzagão.
Nada mais atual. Já sofria o povo nordestino com a seca e fome e já
naquele tempo invés de soluções permanentes, davam à eles, povo
honrado, brioso e trabalhador, a humilhação da esmola.
Mais de meio século passado e a situação continua a mes-
ma. O sertanejo está esperando pela água, pela saúde, pela educação,
um trabalho que lhe dê uma vida digna, mas continua recebendo esmo-
la. Na música os autores "agradecem aos sulistas", em 1953 o Presi-
dente era Getúlio Vargas.E hoje o que diriam ao nordestino que dirige a vida do país e faz esmola das bolsas e deixa o nordeste, o sertão
e não as grandes cidades, como a última reserva de mão de obra ba-
rata e não qualificada? ATÉ QUANDO??