O bolsista

Mais um dia de trabalho e mais uma atribuição: hoje irei entrevistar e avaliar estudantes para bolsa de trabalho. Tantas atribuições, para alguns uma tarefa fácil e para mim sempre é a tarefa mais difícil. Avaliar pessoas? Como isso é possível? Se a nós mesmo é tão difícil avaliar?

Um a um foram chegando. Trinta minutos para cada entrevista. Pelas normas trinta minutos é o bastante para detectar se o estudante está apto ou não para a função que lhe será designada.

Cada um foi deixando impressões variadas: segurança, conhecimento, nervosismo, responsabilidade, timidez, desprendimento, insegurança...

A única impressão que não vi foi: “não estou nem aí”.

Quando recebi a incumbência da seleção a Diretora foi taxativa: “Preste atenção não queremos bolsistas que apenas querem o valor da bolsa”. Seja rígida, mostre que aqui é para trabalhar! Mas ser bolsista numa universidade não é uma oportunidade para complementar seu aprendizado? Aprender e somar? Mas, vamos lá! Vamos entrevistar.

Já no final da tarde entrou um rapaz. Sorria, foi gentil, mas o nervosismo era visível. Suava muito. O dia estava quente, muito quente. Mas ele me parecia ansioso. Sabe-se lá!

As perguntas foram sendo feitas e as respostas dadas sem constrangimento e com muita firmeza.

18 horas. Bem! Acabou!Agora basta analisar os currículos, as entrevistas e dar uma resposta a Diretora.

Nisso ela chega, altiva, fria e segura. Bem! Qual o nome do escolhido? Preciso do nome agora para fechar o contrato.

O candidato que melhor correspondeu às expectativas foi esse. Disse sem titubear.

E por quê? Bem! Respondi! Esse rapaz demonstrou ser responsável, com muita vontade de aprender, persistente, determinado, seguro, honesto, boa dicção, boa postura, sincero, comprometimento com a universidade, etc.

Espero que esteja certa ela me disse.

Qual o seu nome?

"João Júnior". Estranho! Não consta seu sobrenome. Qual seu telefone? Só deixou o celular. Qual o curso que ele faz? Qual o período? Qual seu endereço?

Foi então que o semblante da diretora transformou-se e pude ver, naquele momento, ao invés do esperado, um misto de ternura, surpresa, espanto e contentamento. Um semblante de mãe.

Sem saber o que se passava (fugia completamente do normal) interrompi aquele momento mágico e perguntei: - então, tudo certo? Foi quando ela me disse:

Muito obrigada por ter feito tantos elogios a meu filho.

Claralice
Enviado por Claralice em 07/02/2010
Reeditado em 07/02/2010
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