VENCEDOR OU INVENCÍVEL?
É de manhã. Tempo ruim com muita chuva e muito frio, e eu sem coragem de sair. Em pé diante da janela envidraçada, fechada para barrar a entrada do ar gelado, olho as pessoas encapotadas, guarda-chuva aberto, indo e vindo como formigas atarefadas. Fiquei imaginando: o homem vence quase tudo, e dentro deste “quase tudo” estão frio, calor e chuva.
Para cada um destes elementos ele inventou algo para sua proteção e bem estar. Para o frio, grossas roupas de lã ou de outro material, lareira ou aquecedor elétrico; para o calor, roupas leves, água, ventiladores, aparelhos de ar condicionado e um gostoso sorvete; para a chuva, ele inventou o guarda-chuva, a capa e a galocha, que não existe mais, e para que sua passagem neste mundo não seja totalmente esquecida, restou a expressão “chato de galocha”. Portanto o homem é um vencedor, mas nem todo homem é invencível.
Ser invencível não significa vencer coisas e gente. Significa vencer a si mesmo. Derrotar todos os dias o demônio de vários nomes: orgulho; ódio, inveja, maledicência e todo o negativo acumulado no peito quando somos dominados por estes ou outros sentimentos que enfermizam corpo e alma. Quem consegue tal façanha é, pela graça de Deus, invencível.
Perdida nestas conjecturas escutei, como se estivesse muito longe, o tirrim do telefone na sala de mobília clara. Era um amigo de quem notícias não tinha há muito tempo. Estávamos agastados por causa de palavras duras ditas um ao outro deixando uma nuvem cinzenta pairando sobre nossas cabeças e uma dor no coração. Quebrado o gelo veio o pedido de perdão, e por mais que vasculhássemos a memória não conseguimos nos lembrar das tais palavras duras. Estávamos vencendo, vencendo para sermos invencíveis. E eu o convidei para o café da manhã. Ouvi seu suspiro de alívio e um “estarei aí em quinze minutos”. Nós vencemos, vencemos a nós mesmos para termos direito ao pódio dos invencíveis.
02/08/06.