IMPRESSIONISMO




               Por favor, não se assombrem, não vou dar uma aula sobre o impressionismo, que como vocês sabem, surgiu de uma crítica ferina do pintor e escritor Louis Leroy, analisando a pintura denominada “ Impressão, nascer do sol”, de Claude Monet, dizendo simplesmente o seguinte sobre o quadro de Monet: “ bem o sabia!
               Pensava eu, se estou impressionado é porque lá há uma impressão. E que liberdade, que suavidade de pincel! Um papel de parede é mais elaborado que esta cena marinha". A expressão foi usada de forma pejorativa, mas Monet adotou o título, sabendo que estava iniciando uma revolução na pintura.
               Ora, estava eu a pensar o que pode significar uma crônica, qual a diferença dela para um conto, e, afinal, o que queremos transmitir com a chamada crônica.Com relação à diferença não há o menor acordo entre os autores.                Interessante é que procurando dizer o que é crônica nas minhas crônicas (será que são,mesmo,crônicas?), deparei-me, para minha felicidade, com um companheiro aqui do recanto das letras, Jorge Cortás Sader Filho, que já falou sobre o tema e lá pelas tantas, ele cita Fernando Sabino, que dizia que “crônica é tudo aquilo que chamamos de crônica”.
               Na minha pesquisa impressionista, quer dizer, desejando apenas captar alguma impressão sobre o tema, vejo alguém dizer, com referência ao conto: Passo a bola para Mário de Andrade: "Conto será sempre aquilo que seu autor batizou de conto". Por sua vez, o meu saudoso e querido Artur da Távola disse sobre a crônica: " É o samba da literatura. É ao mesmo tempo, a poesia, o ensaio, a crítica, o registro histórico, o factual, o apontamento, a filosofia, o flagrante, o miniconto, o retrato, o testemunho, a opinião, o depoimento, a análise, a interpretação, o humor. Tudo isso ela contém, a polivalente Direta e simples como um samba. Profunda como a sinfonia. É isso.”
               Rendo-me às observações de Jorge Cortás Sader Filho e do grande Artur da Távola, que captou muito bem esta multifacetada característica da crônica, que parecendo uma literatura menor, não tem nada de simples. Mas apesar de não ser fácil, vou continuar por aqui a fazer minhas simplórias crônicas, pois todos nós cronistas menores temos como mestre insuperável o nosso maior escritor que foi Machado de Assis.
               Aliás, Machado de Assis tem uma crônica sobre o assunto e esclarece o que é fácil na crônica. O começo da crônica é que é singelo. Olha só o que ele diz: “ Há um meio certo de
começar a crônica por uma trivialidade. É dizer: “Que calor! Que desenfreado calor! Diz-se isto, agitando as pontas do lenço, bufando como um touro, ou simplesmente sacudindo a sobrecasaca. Resvala-se do calor aos fenômenos atmosféricos, fazem-se algumas conjeturas acerca do sol e da lua, outras sobre a febre amarela, manda-se um suspiro a Petrópolis, e La glace est rompue; está começada a crônica.”
               Isso me faz recordar minha filha mais nova,Alessandra, que quando tinha apenas seis anos, logo se enturmava na praia de Copabacana e em cinco minutos de praia ficava logo rodeada por várias amiguinhas no maior conversê!
               Numa manhã,intrigado com essa facilidade da minha filha para fazer de desconhecidas amigas, perguntei: “Alessandra, como é que você faz para fazer amizade tão rapidamente? Ela me respondeu na bucha:- Pô, pai! Eu olho para uma menina e digo assim:a água tá fria, não tá? E aí começamos a conversar e não paramos mais!
               Pois é justamente isso o que estou desajeitadamente tentando fazer, levando o leitor para o impressionismo da pintura, mas para chegar a um grand finale,aqui no nosso cantinho literário, dizendo simplesmente e cronisticamente que a crônica não tem como alvo encontrar a verdade, que, aliás, se esquiva da gente por todo o tempo, mas, apenas, contar uma impressão, um rascunho da verdade, uma visão parcial, dependente do ângulo em que se situa o cronista, e quando muito uma verdade provisória,expressão cunhada por Descartes em sua filosofia.
               Daí o título impressionismo. Este papo de quem não quer nada, mas dizendo muita coisa, de que falava Machado, é o que me contenta! E não me venham agora ficar em dúvida se escrevi um artigo sério ou uma crônica. Respondo logo: escrevi uma crônica, quem vai duvidar?