O CABIDE

O CABIDE

Ele havia me dito com tanta tristeza, porem antes com esperança, se eu por acaso achara o seu Cabide dentro daquela sala úmida e mofada, onde se entulhava caixas com frascos de shampoo e sabonetes.

Prometi procurar. Acho que procurei. Por que ele me indagara novamente, assim mesmo no mais que perfeito, para te dizer que estou falando agora.

Foram quantos dias depois que me dei conta que ele insistia em achar seu Cabide? Não era Justo que só o Cabide dele é que tinha que sumir. Era justo? Dei de ombros: Não sabia. O que podia ser justo e não justo? Dentro do meu pensamento escondido havia perguntas dessa mesma maneira, todavia estavam adormecidas; algumas cochilavam de leve.

A sua busca, aflição por um Cabide, sacudiu um pouco algo dentro do meu consciente que apenas cochilava. Passei a sentir que a água que bebíamos era muito salobra, que a comida às vezes tinha um velho gosto passado, e que meus dias se resumiam num ir vir parecido, com certo intervalo de apatia, em que me esvaziava já vazio em que me encontrava.

Então conto melhor: Eu e ele passeávamos por uma alameda calma num dia de domingo. Talvez fosse de manhã, ou poderia ser um fim de tarde. Atravessamos uma ponte, e ele chegou-se para junto do parapeito da ponte, e ficou olhando o rio lá embaixo correr; caudaloso, lento, sempre lento, correndo... Correndo.

“Sabe fico pensando por que o meu Cabide? Logo o meu Cabide teve que sumir. Eu amava tanto aquele Cabide” Disse-me ele sem se voltar, sem sentir que eu estava a sua retaguarda, admirando suas espáduas, antes a sua forma recortada sobre o azul do céu. Ele existia. Eu existia. Existindo-nos. Pensei naquele Cabide jogado por ai, talvez num depósito de lixo... Ou perdido em alguma sarjeta, rolando, rolando a cada chute, mudando de lugar. Perdido para sempre. E nem ouso me aproximar, fico olhando-o de costas, a quase se virar por sobre os ombros, e eu posso ler a tristeza infantil nos seus lábios.

É tudo de mais importante que nos ligou até hoje, talvez seja toda a lembrança que terei dele no futuro: O Cabide que eu nunca vi e dele desapareceu.

06 de fevereiro

Rodney Aragão

Dedicado ao meu amigo, Igor Sacramento.