Sensibilidade a toda a prova
 
 
Sabem, algumas vezes acho que sou uma pessoa muito sensível, mas tem horas em que acho que não passei nessa fila antes de vir para a Terra, passei foi por diversas vezes na bancada do humor, isso sim!
Tomem como exemplo um dos fatos que aconteceram comigo e se aqui houvesse uma sessão de Humor Negro, seria lá que postaria essa crônica.
Eu costumava emprestar o notebook de outra Secretaria que fica em outro bairro longe do centro, para agilizar a coleta de dados de acidentes de trânsito que faço duas vezes por semana.
Num dia em questão, ao chegar nessa Secretaria, fui informado pela secretária do secretário (que rolo hein) que o pessoal da informática estava com o notebook e lá fui eu falar com o responsável, colega meu de longa data.
Chegando ao setor, dei de cara com uma placa na porta que dizia “Proibida a entrada de pessoas estranhas!” Como me acho um cara normal até demais, não sou nada estranho, fui “afundando”.
Lá dentro ainda num corredor dei de cara com um cidadão que estava numa sala com a porta fechada, mas que tinha uma janela de vidro que formava a parede. Ele me viu e eu, educadamente o cumprimentei e falei normalmente se o fulano amigo meu estava lá. Foi depois que falei que pensei “Que burro que eu sou!” A porta estava fechada, como o rapagão iria me ouvir, mas mesmo assim ele fez um gesto com a cabeça de que demonstrava ter me ouvido e fez um sinal negativo com a mão, e achei que ele queria dizer que eu não podia estar ali, e ele estava certo!
Acreditei, é claro, que ele tinha confundido tudo e o chamei com um gesto.
Ele abriu a porta, era bem mais alto do que eu e ferramos numa conversa.
-- Oi, desculpe incomodar, o Julisbertino (nome fictício hehe) não se encontra?
-- Olha, não, foi lá, volta logo! – disse ele.
Coloquei a mão segurando o queixo com um dedo passando no bigode que eu não tinha e tentei de novo com a cabeça meio abaixada.
-- Será que ele demora muito para voltar? Preciso do notebook!
De novo ele respondeu uma frase sem sentido, mais ou menos assim:
-- Sabe, precisa voltar, falar depois, agora!
Desisti! Não estava entendendo bulhufas! Agradeci e voltei para a sala da secretária do secretário. Em conversa com ela expliquei que o Julisbertino não estava lá e pedi que ela fizesse um contato com ele via celular e acertamos para mais tarde a minha utilização do notebook.
Antes de ir embora, não resisti e perguntei a ela:
-- Não sabia que tinha um estrangeiro trabalhando com o Julisberto! Quase não entendi nada do que ele falou!
No qual ela respondeu, meio que rindo:
-- Ah, não é estrangeiro não! Ele é surdo!
Fiquei meio sem saber onde enfiar a cara, mas como todos ali já sabiam que eu era uma figurinha carimbada, levaram na brincadeira. É lógico que ouvi algumas gozações quanto a isso, mas tirei de letra, afinal, sou eu que geralmente mais adora tirar uma casquinha...
Quanto ao meu novo amigo surdo, encontrei-o diversas outras vezes e desta vez nos entendemos muito bem, pois ele é um dos melhores leitores de lábios da região, e consegue entender tudo que eu digo, principalmente quando não escondo minha boca só de sacanagem, o que ele leva na maior brincadeira.


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JGCosta
Enviado por JGCosta em 06/02/2010
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