O Folgado.
O Folgado.
Ele era realmente um folgado...
Foi se chegando de mansinho, me cativando com seu jeito manhoso e sedutor.
Algo me dizia que ele se tornaria parte importante da minha vida.
Quando chegou em nossa casa, levado pelas mãos da minha filha Daniela, estava magro, sujo e tinha o olhar de quem havia sofrido o “pão que o diabo amassou” nas esquinas da vida. Seus magníficos olhos verdes tinham a tristeza estampada.
A princípio, chegou-se tímido, com humildade e o olhar de quem está agradecido por ter encontrado um teto para morar, refeições na hora certa e uma família para amar. Depois de algum tempo, virou um folgado, vagabundo e boêmio.
Reclamava quando o almoço não estava ao seu gosto, dormia o dia inteirinho e passava as noites na farra em companhia de inúmeras aventuras amorosas, chegando às vezes machucado, revelando-se um brigão e desordeiro. Até o seu andar mudou de calmo e cuidadoso, para altivo, elegante e esnobe.
Eu já estava cansada de tanto reclamar desse comportamento, quando um fato novo veio mudar tudo.
Com uma forte crise de coluna, precisei ficar de repouso absoluto durante dois meses.
Nesses dois meses, ele não saiu de perto de mim. Fazia-me companhia em todos os momentos, sendo o meu fiel companheiro! Só se afastava da cadeira perto da minha cama, se alguém da família o substituísse. Já não ia mais pra farra à noite, deixou de lado as aventuras amorosas e as brigas. Quando meus vizinhos vinham me visitar, ficavam encantados com a atenção e o amor que ele claramente me dispensava. E assim, ganhou novos amigos em toda a vizinhança e também almoços e jantares gratuitos.
Conquistou definitivamente o meu coração e o de toda a família que passou a adorá-lo.
Meu marido, João, e meus filhos, Jorge e Eduardo, que sempre tiveram um “pé atrás” com ele, depois da minha convalescença, estavam definitivamente conquistados.
Faziam todas as suas vontades, traziam comidas que ele gostava e agradavam-no de todas as maneiras. E ele recebia estas homenagens, com a altivez de um príncipe. Como se todos tivessem a obrigação de agradá-lo.
Recuperei-me e ele voltou à sua vida de noitadas, de farras e conquistas.
Fazia questão de ter as suas coisas muito limpas e reclamava se alguma coisa não estava a seu contento... Tornou-se um tirano.
Um dia, trouxe pra casa uma namorada. Depois de um lanche rápido, mandei-os passear. Que desaforo! Só me faltava ter que aturar as suas aventuras.
Uma noite, ele não voltou para casa...
Foram três dias de buscas desesperadas e infrutíferas! Não o encontramos, ninguém sabia onde ele estava. A vizinhança prontamente mobilizou-se para encontrá-lo e nada.
No quarto dia, eu já estava desesperada, quando ele apareceu com a cara mais cínica do mundo, como se nada tivesse acontecido.
Peguei-o no colo, abracei e beijei aquele gato que tantas provas de amor já me dera!
Acariciei o seu pêlo negro e branco e chorei de felicidade...
Neném: O gato “vira-latas” mais querido do mundo!
Nilda Dias Tavares.