MEDO DA CRÍTICA

A minha pobre mentalidade de homem simples e tímido, concebeu que escrever é um ato de "parir". Parir palavra, frase, oração, período e texto. Aí foi quando entrei a pensar que eu era estéril, pois em trinta e cinco anos de leitura nunca fiquei grávido de escrita... Tudo começou depois que li um livro de uma escritora chamada Natalie Goldemberg. Título do livro: Mente Selvagem (como se tornar um escritor). Alto lá, eu não quero dizer com isso, que despertou em mim o desejo de me tornar um escritor. O que achei estranho foi que comecei sentir em mim, sintomas de uma prenhez inesperada. Aqueles enjôos da inércia, aqueles desejos de escrever algo para vê como ficava.

Aproveitando um dia de solidão (eu estava a sós em casa com meus pensamentos) peguei do caderno, peguei da caneta decidido a escrever algo. Algo que me aliviasse aquela angústia, aquele desejo de pôr para fora algo que eu não sabia o quê. Nem sabia se estava realmente dentro de mim. E ali fiquei, não lembro quanto tempo, sem realmente me decidir... Escrever o quê? Por quê? E para quê?... Enfim concluí: Posso escrever o que eu bem entender, é só não mostrar meu escrito para ninguém. Ninguém é, efetivamente, obrigado saber dos meus pejos literários ora essa! Pensei.

E assim foi... Decidido a não mostrar para ninguém o resultado daquela investida literária, sentei-me à mesa, munido de caderno e caneta, numa atitude de quem sabe o que está fazendo. Quando ia dar início ao primeiro parágrafo, me ocorreu outra idéia: Se eu escrever no computador fica bem mais fácil de esconder, dos olhos indesejáveis, minha produção "literária". Era como se eu houvesse cometido um crime hediondo e desejasse escondê-lo. É, agora sim, está decidido, vou escrever no computador e ocultar em pasta, todo o meu escrito. Veio-me à lembrança o fato de que o meu computador é utilizado por toda a minha família. Mesmo assim corri o risco e escrevi, escrevi tudo que me vinha à cabeça. Só não posso é dizer se escrevi no caderno ou no computador. Segredo é segredo não pode ser contado. Se não conto nem o segredo dos outros, como hei de contar o meu? Ora essa.

De quando em quando dou uma olhada na minha misteriosa produção. E fico imaginando...: Se descobrem e levam a público esse "fruto" gerado num momento impensado? Talvez tenha eu que ir embora para um lugar onde ninguém me conheça para evitar ouvir chocotas, gozações e até críticas cruéis de algum crítico literário de plantão. Ou talvez (acho que não chaga a tanto) seja preciso mudar de País.

Aqui fico rogando a Buda e a Maomé para que ninguém nunca leia o que escrevi, mas se acaso alguém vier a ler. Deus entra em Ação e seja o que Ele quiser.

VICENTE REINALDO - São Paulo, 08/07/08.

VICENTE REINALDO
Enviado por VICENTE REINALDO em 06/02/2010
Reeditado em 31/01/2013
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