Não te Ter

Não te ter

Mais uma vez sinto meu peito se apertar. Não é um aperto comum de pressentimento ruim, ou simples saudades. É uma sensação tão intensa de perda e solidão que quase não tive coragem de transcrever nesta página.

Foi no final da tarde que realmente ficou pior. Enquanto a estrada de avolumava à minha frente e os quilômetros insistiam e passar mais e mais rápidos pelo marcador, eu senti um peso crescendo dentro de meu peito. Talvez por ter a consciência tão latente que estava, a cada momento, ficando mais e mais longe de você, meu corpo reagiu, fisicamente, ao sentimento de perda que aflorava em meu coração.

Mas foi quando o relógio marcou sete horas que a dor se tornou insuportável. Sete horas da sexta feira, o momento de intensa alegria de todas as semanas. O momento, a hora exata em que todas as semanas eu te encontro, maravilhosa em seu esplendor de musa de poeta. Mas hoje, centenas de quilômetros longe de você, hoje, às sete horas dessa sexta feira, eu sabia que não estava correndo ao seu encontro, mas ia no caminho contrário.

E depois, quando meu corpo já começava a se acostumar com a falta de você, veio a noite. E essa dama negra e sádica trouxe consigo uma imensidão de fantasmas que me assombraram, eu, indefeso e desesperadamente só.

E agora rolo nessa cama que eu desconheço, tentando em vão te imaginar deitada ao meu lado. Consigo, sim, te ver, com seus cabelos escorrendo pelos ombros enquanto quase ronrona no sono leve. Mas meu delírio não consegue recriar seu calor e mais uma vez mergulho na imensa solidão do não te ter.

060210
Fábio Codogno
Enviado por Fábio Codogno em 06/02/2010
Reeditado em 06/02/2010
Código do texto: T2071958
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