"DÉJÀ VU" SABOR FELICIDADE!

Do saco do meu saudosismo...

Para os que são espiritualistas absolutamente nada na vida é por acaso e embora a ciência explique neurologicamente os fenômenos de "Déjà vu"-aquelas sensações que vez ou outra temos de já ter visto ou vivido algo ou determinada situação- alguns acontecimentos denotam fatos no mínimo curiosos e que instigam a nossa crença em algo além do que nossos olhos possam enxergar.

Eu tinha mais ou menos uns seis anos de idade, e quando íamos ao centro de São Paulo em família, pegávamos um ônibus de volta para o nosso bairro cuja linha fazia seu ponto final numa praça aqui no centro de São Paulo que se chama PRAÇA FERNANDO COSTA, logo ali ao lado do Parque Dom Pedro II. Acredito que a praça ainda esteja lá.

Naquela época, embora não me lembre com muita acuidade, o cenário do centro era bem outro, porque me lembro que andávamos tranquilamente sem medo de assaltos ou furto de trombadinhas e trombadões.

Lembro-me que já saia de casa pensando na volta, porque ali, próximo à parada do nosso ônibus, tinha um senhor negro, de cabelos bem branquinhos que vendia aquelas coloridas balas de goma, que vêm num saquinho, talvez com umas dez ou doze balinhas cobertas de açúcar cristal...cada cor correspondente a um mais gostoso sabor!

Meu pai já deixava as moedas prontas no bolso do paletó e o camelô (sr.José) que já me reconhecia de longe, porque eu não parava de falar, sempre me dava um desconto para que eu levasse dois saquinhos.

Meu irmão passava a viagem toda me cutucando, tentando arrancar um deles de mim.Mas eu apenas lhe distribuía algumas (bem poucas!) durante a viagem, de modo que quando chegávamos no nosso ponto de casa, só me restavam os dois sacos vazios...que naquela época minha mãe já me pedia para que não os jogasse no chão.

Então, eu os guardava (os sacos e o restante do açúcar cristal desprendido das balas) na minha mochila. E depois ainda levava bronca da minha mãe pela meleca ecológica!

Lembro-me de que certa vez quando o motorista ligou o motor de arranque do ônibus, o escapamento soltou uma fuligem negra e eu falei em alto tom " mãe, pára de respirar, prende a respiração que esta fumaça ataca os pulmões! Hoje quando lembro naquela advertência fico muito intrigada porque sequer sabia eu o que significava pulmões, ar, oxigênio e gases tóxicos de carbono!

E aonde está o meu Déjà vu? Talvez fosse o meu precoce medo uma modalidade de Déjà Vu trazido de outras existências.

Mas dia desses, de dentro do meu carro, tive a impressão de ter visto aquele mesmo senhor vendendo as mesmas balinhas, numa barraquinha da calçada. Senti acelerar o coração.

Sua fisionomia me era familiar e as sua balinhas mais ainda porque até hoje eu nunca desisti delas.Sempre as tenho no carro.

Porém, desde aquele tempo tudo mudou muito na cidade de São Paulo, com exceção dos poluentes do seu ar, que a despeito das inspecções veiculares, continuam contaminando a atmosfera das grandes cidades...do mundo.

E repentinamente eu perdi meu camelô de vista porque um caminhão se postou entre eu e a calçada, a esguichar do seu escapamento a mesma fumaça preta de outrora pra cima de mim.

Imediatamente prendi a respiração e bloqueei a entrada da fumaça para dentro do meu carro.

A tecnologia evoluiu , mudaram os meios e o meio, porém o Homem e seus pulmões...somos os mesmos!

Deve se por isso que vivo a ter meus "Déjà vu"!

Claro, as balinhas também não mudaram, têm as mesmas cores...de diversos sabores. De felicidade.