De Volta ao Rio.
Fui ao Rio buscando beleza e alegria. Reencontrei a mesma cidade deslumbrante que a minha memória guardava sem sentir o medo alimentado pela mídia nos últimos anos.
De qualquer ângulo o Rio se ofereceu lindamente. Do alto do Corcovado, do Pão de Açúcar ou do Morro da Urca a cidade seduz qualquer olhar e a visão do Cristo Redentor nos acompanha quando no asfalto.
Os males do Rio não são para os visitantes. Eu pelo menos não os vi.
Vi gente na praia em todos os momentos em que cheguei à janela. Pessoas de todas as idades, corpos de todas as cores, sarados ou não, sentem-se no direito de pisar a areia ou as pedras portuguesas da orla.
O calor de quarenta graus pode e deve ser abrandado com um chopp gelado ou mais, depende da sede e da disposição. Sede que também pode ser aplacada com água de côco no calçadão.
O Rio é metrópole sem pose e além da natureza inigualável a cidade esbanja história e cultura. Lembramos Machado de Assis no Cosme Velho; de Vinicius e Tom nos bares de Ipanema, só para ilustrar o texto com alguns dos seus habitantes ilustres.
Li um texto de Nei Lopes, o compositor, sobre a cidade ter sido dividida pela desigualdade social. Não vou discordar de quem tem autoridade para discorrer sobre o assunto, mas, se me permitem o egoísmo e a alienação, não fui com esse intuito, fui para me presentear e tive o melhor presente possível.
Do Leme ao Pontal, como cantou Tim Maia, meu olhar só achou o belo que se prolongou pela Avenida Niemeyer ate a Barra, com o Morro do Vidigal se contrapondo ao mar, em formas e cores absolutamente distintas, mas igualmente bonito.
Na Lapa, não encontrei os malandros românticos das letras de músicas -talvez alguns pós-modernos- mas adorei o que vi, bebi, ouvi e comi por ali.
A Rua do Ouvidor, no centro, me remeteu ao passado e na Gonçalves Dias, encontrei a Confeitaria Colombo com sua elegância centenária e deliciosas iguarias.
Depois do ir e vir descontraído de Ipanema, do Leblon e da Lapa, a noite do Rio me ofereceu outro presente: ensaio técnico da Portela na Marquês de Sapucaí.
Nessa noite o Rio entrou em minha vida com a bateria e o samba meio apressadinho, porém irresistível, da escola de Paulinho da Viola, levando meu coração no canto da liberdade sem fronteiras da águia guerreira.