A VOZ DO SILÊNCIO

Pior do que a voz que cala e não se pronuncia, é um silêncio que fala e muitas vezes grita.
Imediatamente me veio à mente situações em que o silêncio me disse verdades terríveis, pois você sabe, o silêncio não é dado a amenidades, grita suas verdades tão cruéis e desabam em nós suas intensidades.
Um telefonema mudo. Um e-mail que não chegou. Um encontro onde nenhum dos dois abre a boca e o silêncio impera.
Silêncios que falam sobre desinteresse, esquecimento, desprezo e recusas.
Quantas coisas são ditas na quietude, depois de uma discussão.
O perdão não vem, nem um beijo, nem uma gargalhada para acabar com o clima de tensão, tão pouco um olhar amenizando as feridas.
Só ele permanece imutável, o silêncio, a ante-sala no aguarde do fim.
É mil vezes preferível uma voz que diga coisas que a gente não quer ouvir, como um grito, palavras que ferem, pois ao menos as palavras que são ditas indicam uma tentativa de entendimento.
Cordas vocais em funcionamento articulam argumentos, expõem suas queixas, expressam suas dores, inquietações, aspirações e jogam limpo.
Já o silêncio arquiteta planos, decisões que não são compartilhadas.
Quando nada é dito, nada fica combinado. Tudo permanece já definido.
Quantas vezes, numa discussão histérica, ouvimos um dos dois gritar:
"Diz alguma coisa!"
É o silêncio de um, mandando más notícias para o desespero do outro.
É claro que há muitas situações em que o silêncio é bem-vindo.
Para os seguranças em um show de have, é um alívio. Para a professora em sua sala de aula é uma satisfação. Para um palestrante é concentração e atenção dos ouvintes.
No amor, quando a relação é sólida e madura, o silêncio a dois não incomoda, pois é o silêncio da paz é harmonia que se faz.
O único silêncio que perturba, é aquele que fala, que grita alto.
É quando ninguém bate à nossa porta, não há e-mails na caixa de entrada, não há cartas, não há recados na secretária eletrônica, não há o telefonema e mesmo assim, você entende a mensagem. Talvez essa seja a pior mensagem, ser cercado de indiferença, ninguém fazer a questão de sua presença, ser um nada em meio ao tudo. É se perder no completo absurdo, de ser alguém sem ter ninguém!


Fernanda Mothé Pipas
Enviado por Fernanda Mothé Pipas em 05/02/2010
Código do texto: T2070875
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