O porvir não é hermeticamente fechado?

O porvir não é hermeticamente fechado?

Sou muito curioso, querendo sempre lhe visitar. Não sei quando, mas certamente irei. Enquanto não acontece, vou vivendo assim mesmo. Entre intempéries vou me moldando, às vezes sendo moldado. Outro dia de sábado, com sol a pino, de céu majestoso num azul anil de ofuscar a retina. Olhei pela janela e observei um cachorro vadio, manquitolando, era o último do bando que atravessava a rua. Era uma manhã atípica, de festas natalinas, e aquela figura esquelética se arrastava, ignorado pelos outros tão miseráveis quanto ele.

O animal era insultado pela maioria dos transeuntes que se movimentavam como formigas enfileiradas atrás de açúcar. Somente se salvaram algumas crianças que ficavam com dó do bicho e apontavam seus indicadores na direção do cão e falavam: “coitadinho”.

Esse acontecimento nos remete ao comportamento de uma parcela da humanidade que não consegue viver com o “diferente”, “excêntrico”, ou sei lá como seja. A verdade é que essa mesma exclusão que aconteceu em relação ao cachorro se reflete na sociedade. Mas estávamos falando de você. “Tão calada e eu com medo de falar, não sei se é hora de partir ou de chegar”. Recentemente falei aos meus amigos do mistério que envolve nossa relação e que gostaria de lhe conhecer melhor, eles se surpreenderam. Contei que não sabia que roupa iria vestir, se branco ou preto. Não consigo me imaginar encontrando você cara a cara. Não sei mesmo em que lugar poderíamos nos conhecer, poderia ser numa esquina, numa curva de uma auto-estrada, num vôo panorâmico de avião, ou que sabe num sonho. Enquanto não te vejo, vou aproveitar para ver as estrelas, e quem sabe o sol do novo amanhecer.

E quando, enfim, após uma existência bem completada, vier a hora solene, será com calma, sem pesar, que acolherei você; que os homens envolvem com receio e ostentação: a morte, espanto dos poderosos e dos sensuais, e que, para o pensador austero, não é mais que a libertação, a hora da transformação, a porta que se abre para o império luminoso dos Espíritos de “ 1permanente relações entre os dois mundos; solidariedade de todos os seres, idênticos na sua origem e nos seus fins, diferentes somente pela sua situação transitória: uns no estado de Espírito, livres no espaço, os outros, revestidos de um envelope perecível, mas passando alternadamente de um estado ao outro, a morte não sendo senão um período transitório entre duas existências terrestres”. A solução que acabamos de dar aos problemas da vida está baseada na mais rigorosa lógica. Está de acordo com as convicções dos grandes gênios da Antiguidade, com os ensinamentos de Sócrates, de Platão, de Orígenes, dos druídas, cujas profundas visões, hoje reconstituídas pela história, têm confundido o espírito humano há vinte séculos. Ela forma o fundo das filosofias do Oriente. Tem inspirado obras e atos sublimes; nossos pais, os Gregos e Romanos, daí tiraram sua indomável coragem, seu desdém pela morte. Nos tempos modernos, tem sido professada por Jean Reynaud, Henri Martin, Esquirros, Pierre Leroux, Victor Hugo, etc.

duende
Enviado por duende em 05/02/2010
Código do texto: T2070871
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