Ele quis dar o golpe do joão-sem-braço

Quando o empreiteiro esteve aqui para tratarmos a reforma, peguei um caderno e fui marcando tudo. Primeiro seria a troca do piso, quer dizer, colocar novos ladrilhos sobre a velha lajota, o que se chama ‘piso–sobre-piso’. Num trecho externo, porém, havia rachaduras e nós já sabíamos que ali seria necessário quebrar tudo e refazer, inclusive o contrapiso. Medidas todas as áreas, falamos do orçamento. Ele disse então que o piso-sobre-piso custaria doze reais o metro quadrado e aquele outro o dobro, vinte e cinco. Marquei no caderno, tendo meu marido como testemunha. Negócio fechado, a obra começou.

O fogão foi desativado, a geladeira e as vassouras foram parar na sala, tudo saiu do lugar e o serviço começou a ser feito pra todo lado ao mesmo tempo, sem nunca acabar... Uma barafunda. Ao final da primeira semana, ele pediu setecentos reais, que lhe foram pagos. Dez dias depois, veio pedir mil reais, voltaria no final da tarde para receber.

Mesmo sem olhar as anotações eu já sabia que isto ultrapassaria o valor total. Quando chegou, abri o caderno para que ele pudesse acompanhar meu raciocínio. O homem desabou. Dizia porque dizia que o metro do piso-sobre-piso custava vinte reais! Aquela parte do contrapiso nem tinha sido feita. E os rejuntes ainda estavam por terminar... Pegou as quatrocentas pratas que lhe entreguei, o restante só receberia no final. Saiu pisando duro, de cara amarrada. No dia seguinte ninguém apareceu para trabalhar!

Só bem mais tarde é que ele veio comunicar que não continuaria a obra, que arrajássemos outros pedreiros.

E o pior de tudo, ainda sugeriu que eu devia estar com o miolo mole...