Uma crônica qualquer
Lá vai: Na quadra da faculdade de Medicina, já faltando três meses para se tornar doutor, Dr. Alberto, era ainda quase um garoto que jogava vigorosamente tênis, comprava suas raquetes numa grande loja de esporte, lugar para os grã-finos passearem, lá também as encordoava.
Já Clementino, gostava de usar aquele colete, sentia-se orgulhoso de ter trabalho de carteira assinada e na sua casa era tido como herói e exemplo de vida, pois ainda tinha um trabalhinho aí com a molecada, nada que fizesse o envolver-se por uma causa. Sem dúvida, era trabalhador! Acordava cedo “nos escuros”, como dizia sua mãe, uma velha que cuidava de outras velhas ricas, ele também devolvia as bolinhas nas partidas e treinos dos abastados do tênis, tinha uma manhazinha para jogar a bola certinha nas mãos dos caras.
Um dia trombaram-se na loja do Clementino...dr Alberto veio encordoar sua Babolat ......., ia jogar um torneiozinho no Espírito Santo e precisa de novas cordas.
Já foi logo chamando bem alto e autoritário: Ei você! Vim... e chacoalhava as raquetes como se Clementino tivesse que pressupor o que o Dr. queria.
-Encordoar Sr? Completou Clementino.
-É! Respondeu o Dr. secamente.
-Qual seria o tipo de corda que o senhor vai estar utilizando (enquanto dizia a si mesmo que precisava acabar com essa mania de gerúndio.) era humilde de dar dó.
-Como qual?A que deve ser usada nesta raquete aí, seu demente!
-Perdão Sr. É que eu não sofro de nenhuma demência...portanto não posso ser dem...
-Chega!!! Estas pessoas marrons estão achando que só por que tem um negro na casa branca podem discutir com a gente! Quero falar com o gerente! Que veio logo:
-Que posso ajudar Sr?
-Este marrom aí acha que não é demente....e faz corpo mole pra trocar minhas cordas
-Olhe aqui meu senhor disse veemente o gerente, nós temos uma cota pra “estes marrons”! e somos obrigados a mantê-los...estes emprestáveis....digo: nesta empresa, e nos gera um retorno alto, tudinho mão de obra barata...recebem uma merreca...o Sr. há de entender nosso lado.
-Entendo sim, este mundo está mesmo perdido!
Enquanto Clementino sentia o quão foda era ser marrom.