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Nem sei pra quê me submeto a isso. Paro pra pensar, do mesmo jeito que parei no labirinto de fotos, datas e reminiscências horas atrás, e descubro, tenho certeza, de que talvez seja uma espécie de vício. Meu corpo, tão mal acostumado, tem saudades. Ele procura, quer sentir através de todas as ramificações da epiderme, de todos os poros – tão pequenos, quase invisíveis, sedentos – o toque do que já passou. Basta que uma pequena imagem seja captada de relance pela minha visão periférica e tudo muda; os pelos se eriçam, o estomago se torna uma massa compacta de vazio, um vazio existencial, físico, doloroso, que rasga e espera receber o pedacinho de memória que acabou de ser identificado, visto na forma de um arquivo qualquer, uma moldura fotográfica cuja força ultrapassa o papel fosco e brilha até o infinito carregando a mesma mensagem de sempre, sempre presente, sempre mais forte, sempre repetida, sempre mais óbvia e clara: tudo muda. E enquanto repasso esse tudo, minhas mãos automaticamente buscam outras, outro corpo, outra presença, como se tivessem vida própria e sentissem que, por um momento, o passadopresentefuturo virou um só, e não estou só escrevendo, mas quase olhando para o lado, para onde está o que me falta, e eu toco, quero tocar, gostaria de tocar, consigo tocá-la, e dizer que está tudo bem, que já, já é hora de dormir, e tudo vai findar num abraço, numa reciprocidade de gestos que deixa claro que aquilo não vai acabar nunca, porque não deveria, pois não é assim que as coisas são, e que, claro, o destino final de toda solidão é encontrar-se enlaçada com outra solidão e descobrirem-se completas, com outro nome, outra coisa, outro ser, e tudo é conversa, proximidade, carinho, luz fraca que não pode ser apagada pois a noite está ai e ela é longa, apesar de boa e, muito provavelmente, inesquecível.