Sala de Espera
Uma acanhada sala de espera; um jogo de sofá de duas partes e duas poltronas, uma pequena mesa de centro, um televisor de quatorze polegadas, um ventilador giratório fixado na parede do fundo do vestíbulo e uma porta lateral corrediça de vidro, que dava para uma pequena varanda destinada aos fumantes.
Todos os dias, próximo às dezessete horas, o homem que era médico vinha e noticiava sobre a saúde dos enfermos para os familiares que aguardavam apreensivos no início e esgotados com o passar dos dias, caso não viesse uma centeia de esperança.
Uma família tinha seu patriarca em estado gravíssimo, sob os cuidados da terapia intensiva; a outra família tinha a sua matriarca em situação não menos crítica. As famílias se conheceram por obra do acaso, força do destino; ao longo da convalescência de seus entes foram apresentados uns aos outros.
Os entes de cada família, ao serem chamados na presença do médico, se despediam dos colegas de espera e partiam de encontro às últimas notícias sobre o estado do parente enfermo. Porém, antes de partirem, no período de espera, conversavam. Cada qual tinha sua bagagem até encontrarem-se ali, naquela sala de angústias e aflições; isso não se dava pela sala em si, mas pela razão a qual os colocava em tal situação; ou seja, era difícil estar dentro daquela situação, dentro daquele lugar, então, se consolavam de certa forma.
Chegavam sempre alguns minutos antes do horário da visita. Estes minutos que precediam a visita eram os minutos onde trocavam as informações recebidas do boletim médico do dia anterior, e ali trocavam também as mais variadas histórias sobre a vida dos entes.
Após a visita, os representantes de cada enfermo, iam para uma saleta onde se sentavam de frente para o homem que era médico, e ouviam as explicações do quadro clínico; eram fornecidas informações das possibilidades de evolução do caso (prognóstico) e tinham, naquela ocasião, oportunidade de fazer perguntas, que na maioria das vezes não ocorriam.
Era assim, entre uma visita e outra, entre um boletim médico e outro, que pessoas completamente diferentes se conheciam dentro daquele hospital que prestava serviços tanto a particulares como aos usuários do sistema de saúde do governo.
Certa vez o homem de uma das famílias disse para mim que conheceu outro homem que era muito humilde, e que por ser humilde e pobre – o que quase sempre tratam erroneamente como a mesma coisa, mas não é sobre isso que quero falar – não tinha condições de ir todos os dias para a visita. Então, o homem que não era pobre – talvez fosse humilde, mas isso não vem ao caso – contou-me que fazia a vez daquele companheiro em condição semelhante a sua, ao que se refere ter um ente querido enfermo em estado grave em uma unidade de terapia intensiva.
O homem ter se compadecido do outro homem humilde e pobre, me pareceu um ato de amor, uma atitude altruísta, humana.
Foi isso; o homem fazia a visita ao ente do outro homem, toda vez que este se via impossibilitado de fazê-la.
Chamou-me atenção o fato de serem perfeitos estranhos; distantes socialmente, culturalmente, e tudo o mais; perfeitos estranhos que se encontraram ao acaso, por obra do destino e se apoiaram um no outro.
Achei bonito isso. O homem que não era pobre pareceu-me nobre e o pobre pareceu-me, neste caso, com um pouco de sorte; em meio a sua dor conheceu um homem capaz de um ato de amizade. Talvez isso, mesmo naquela situação, fosse algo confortante ao homem pobre.
Para mim foi algo nobre, relevante, digno de nota.