Aluno, Cliente de Professor
quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010
Claudeci Ferreira de Andrade
Não sei se sou mais um diabo no inferno ou se sou apenas um anjo do bem sem o paraíso. Acostumado com essa temperatura do sexto ao nono grau; hoje, no início do dia, recebi uns elogios exagerados, senti-me feliz, mas como alegria de pobre dura pouco, não posso me esquecer das precauções dos demônios. Contudo, crivado de "setas malignas", o que não tem nada que ver com o ser incompetente ou não, mas logo depois, já no final da tarde, chamei a atenção de um aluno do 8º ano, com cuidado e jeito; ele me ameaçou de denunciar à Secretaria de Educação! Quem ensinou para ele que os próprios do sistema não são unidos? Ficou claro que ele queria o direito de perturbar a aula e criar confusão na escola, pelo que entendi, ele alimentava a esperança de prevalecer, pois não se acanhou em assumir essa postura em público. Queria aparecer de qualquer forma. Fez tudo para afastar a atenção dos colegas da aula e conseguiu.
Até eu um homem maduro, ou melhor, "podre"! Não me mostrei disposto a pôr fim à minha condição de bancarrota diante da classe, naquela ocasião. Fingi que não estava acontecendo nada e continuei tentando ensinar alguma coisa boa naquela aula. Qualquer professor, de alguns anos de experiência, faria o mesmo, porque este aluno veio treinado das séries anteriores, fizeram dele o que ele é agora, e em tantos outros aplicou a mesma fórmula e funcionou, deixando os atores da educação afastados do centro de si mesmo e do seus esforços próprios para retornar aos objetivos nobres do ensinar fácil.
O poder repousa no aluno, sim, não em nós mesmos. O poder envolve o usufruto dos "favores obrigatórios"; mas, é mais do que assentimento a conteúdos didáticos. O poder estabelece-se no aluno em estar presente na escola, produzindo ou não, estando presente é o que importa e é louvado por isso. Ai de mim, se esse aluno deixasse de frequentar as aulas por minha causa. Mas, isso dói muito porque ele na aula, muitas vezes, também está ausente! Ainda me recuso fazer de mim mesmo aquilo que eles podem fazer. — não é pessoal – justificou ele – é que não gosto de Português.
Parafraseando Rudyard Kipling, eu diria que o professor mais idiota do mundo pode disciplinar um sábio aluno. Mas, é preciso um professor extremamente sábio para disciplinar um aluno idiota. A autoridade dos professores consiste em nos tornarmos inteiramente ausentes de nós mesmos e levar-nos de volta à autodesconfiança, induzindo-nos a total dependência dos alunos. Somos um com eles. Para não dizer definitivamente: o cliente sempre tem razão!
Claudeko
Encaminhamento de Percepção
1) "A alegria de pobre dura pouco". Nesse caso o narrador disse que a ameça do aluno entristeceu seu dia. O que mais no colégio acaba com a alegria das pessoas?
2) É normal as pessoas fingirem que não foram ofendidas para evitar maiores problemas relacionais. Essa atitude é própria de que tipo de pessoa? E por quê?
3) Que tipo de poder o aluno tem e qual seria a atitude que promove o verdadeiro poder? E o poder do Professor?
4) Explique o parafraseado ao pensamento de Rudyarde.
5) Faça um paralelo para explicar melhor como o aluno se assemelha a cliente. E por que o cliente sempre tem razão?