OS BICHOS DE MINHA VIDA (PARTE 1)

Poderia perfeitamente começar esse texto com...era uma vez...de tão incomum, os relatos a seguir talvez possam parecer inverídicos. Aos leitores, que assim o achem, tenho a defesa de meu querido escritor, que por sinal mudou-se para outro plano, bem fora de hora, Luis Crispim, o mago das letras. Com uma coluna em um jornal diário aquí em João Pessoa, fartava-se de usar nossa casa como tema de seus escritos. Na verdade, éramos completamente fora dos padrões, ditos normais. Quando nem ecologia nem vegetarianismo ainda não era modismo, praticávamos ambos como algo normal e indispensável. O respeito a natureza era a palavra chave. Éramos diferentes em tudo, até no tamanho da família. Planejada filho por filho, tivemos quatro.

Bem, mas hoje quero centralizar essas linhas numa pessoa, digo, em um bicho. È até absurdo chama-la assim, mas facilitará para voces, o entendimento da história.

Morávamos numa grande e confortável casa, localizada no melhor bairro da cidade. Daí entende-se porque seria impossível consiliar bichos de porte grande, nessa casa. Mas, rompemos mais uma vez com as conveções.

Numa manhã qualquer, ao sairmos de casa, nos deparamos na rua de nosso bairro com uma cena incomum: um pequeno jumento expirava em pleno leito da rua. Paramos o carro, e, fomos até ele. Era realmente um caso terminal. Certamente havia sido abandonado à própria sorte por sua mãe e também pelo seu dono que não via como recuperá-lo. Demandava tempo e dinheiro. Um rápido olhar, e, já tínhamos decidido o futuro dele. O colocamos dentro do carro, e, voltamos para casa. Adeus ás aulas programadas para aquele dia. Mas, o acontecido justificava plenamente o feriado. Nossa família tinha mais um membro, já que era assim que entendíamos. Iríamos chama-lo de Platero. Após os primeiros socorros, e, um bom banho no jardim de casa, com direito a sabonete Johnson, a jumenta, que de início pensávamos ser um jumento, estava bem melhor. Suas feridas foram devidamente cuidadas e ela já se aguentava de pé. Era chegada a hora do batismo. Após algumas sugestões dos seis membros da família, o nome encontrado foi Jira.

Lógicamente Jira passou a ser o centro das atenções. A timidez da chegada foi logo substituida por uma liberdade sem par. Jira andava por todos os cômodos da casa. Era escovada diáriamente, perfumada, e, nada mais restava daquela Jira mendiga que um dia aportou em nossas vidas. Jira aceitava a nova vida e nos devolvia a adoção com muito carinho.

Nossa chegada diária em casa, era anunciada de maneira festiva com um relincho exagerado da dita cuja. Desnecessário dizer que os visinhos nunca aceitaram o aumento de nossa prole.

Bem, mas isso é outra história. Hoje só foi a chegada de Jira.