SE ISSO FOSSE UMA CRÔNICA...

SE ISSO FOSSE UMA CRÔNICA O SEU TÍTULO SERIA: RENUNCIA.

REFLEXÃO DO MOMENTO

Voltamos hoje do feriado da Páscoa lá na Sede, eu e meus filhos. Foi bom de modo geral, mas eu acho que não gostei. Uma sensação indefinida de tristeza.

Não há um contato de entendimento entre eu e eles. Fica patente uma distância na troca de diálogo bom e gostoso. É difícil para eu explicar até a eu mesma, o que eu estou sentindo e o que ocorre entre mãe e filhos, coisa que um psicólogo logo diagnosticaria.

Eu, triste, esvaziada.

Eles, aborrecidos, mas mais unidos e conquistando “espaço”.

Esclareci alguma coisa? _ Não.

No que nos aproximamos nos afastamos. Em relação à “bagunça dos guardados do Catetinho, que é uma casinha onde morei sozinha em tempos já ocorridos, e lá tenho o meu passado em fotos, cadernos escritos sem pretensão que não o desabafo, e meus livros, meu acervo de arte feito por mim e de artistas importantes, tudo resguardado, e roupas antigas, e bichos e plantas”: os filhos ditaram como seria feito, eles juntos iriam pegando as coisas, papéis e pastas e jogando fora, queimando tudo, só salvando as fotografias.

Ora pra isso não preciso deles, qualquer empregado é só eu mandar: vamos catar as fotos, o resto vocês podem fazer uma fogueira lá no fogão e reduziria tudo a uma caixa grande com as fotos.

Há uma estupidez neste distanciamento de palavras...

Que eu me recolho em mim, confirmando mais outra vez como não há nada entre nós. Quando digo o verbo haver, é mais no sentido mais profundo da alma, da sensibilidade específica de cada um, do respeito ao outro que se aceita mesmo sem entender o objetivo de cada qual, do amor ao outro como ele é, do humano de cada um. Frases ditas como:

“pra quê você quer guardar laudos feitos há vinte anos passados?”

Ou:

...”tudo bem, a casa é sua”...

Olha... Eu preferia que dissessem palavras com vida própria como: “porque você não morre logo ou se apaga e me deixa em paz, para eu fazer as coisas como eu quero, que você incomoda, é um peso para mim!...”

“porque fica querendo ainda viver ou reviver seus sonhos ou seus desejos não realizados?...

“e etc., etc, etc...”

“porque você pensa assim, se ninguém mais pensa desse modo!...”

Agora, eu me pergunto, porque isso me fere? Porque não os mando passear e paro de ter amor por quem eu amar é um incômodo?

Coisas que me obrigam a calar e a voltar pra mim mesma, a me recolher?

Antes de sairmos, cedinho hoje para a volta, meu filho fez até o café, que tomávamos às pressas na mesa, eu disse sem olhar para ele:

“ _ Olha, eu não vou mais a Maria da Fé. Você pode ir sozinho”.

“Pra mim que isso é buraco na alma ou na não realização dos desejos, é uma renuncia ao sonho e uma renuncia a uma boa comunicação com os filhos; as palavras são as setas, canta o Paulinho Mosca.”

Ditas, não voltam mais.