Carnavais da Minha Vida

Corria o ano de 1951. Eu estava com 17 anos, que é a idade na qual julgamos saber tudo, mas temos muito ainda que aprender. Mas é uma idade maravilhosa, e eu não era diferente dos outros.

E foi no domingo de carnaval que eu e meus amigos mais constantes, estávamos assistindo à passagem das escolas de samba, pela sede do Campinas F. C., na Rua Sales de Oliveira, na Vila Industrial. Depois de apreciar o desfila da escola “ A Voz do Morro”, no intervalo do desfile, fomos até o Empório 88, que ficava embaixo da sede do Campinas, para tomar um refrigerante.

E por todos os lados ouviam-se as marchas e sambas daquele ano. No mínimo eram lançadas de 35 a 40 músicas de carnaval, por ano, quase todas de grande sucesso, e lá, pelo toca-disco do Sr. Joaquim, o dono do Empório 88, ficamos apreciando a “Marcha do Caracol”, com “Os 4 Ases e Um Coringa”, um conjunto que era um dos melhores do Brasil. A marcha dizia o seguinte:

Marcha do Caracol (autores: Peterpan e Afonso Teixeira)

Há tanto tempo que não tenho onde morar

Se é chuva,apanho chuva

Se é sol,apanho sol

Francamente pra viver nessa agonia

Eu preferia ter nascido caracol

Levava minha casa nas costas muito bem

Não pagava aluguel nem luvas a ninguém

Morava um dia aqui, o outro dia lá

Leblon, Copacabana, Madureira e Irajá

Enquanto eu, o Toninho, o Augusto e o Wilson conversávamos e bebíamos os refrigerantes, entraram vários rapazes e algumas moças, todos com fantasias idênticas: calça branca e blusa azul e amarela. Vale acrescentar que mulher de calça comprida naquela época não era bem vista no cotidiano. Mas no carnaval tudo era permitido.

Esses rapazes e moças estavam cantando e sambando em volta do balcão onde estávamos, e com lança-perfumes, que não era para todos, pois o preço era muito alto. Depois do grupo ter ido embora fomos terminar os refrigerantes.

Eu nada senti no momento. Porém, uns vinte minutos depois eu fiquei tão mau que tive de ir para casa amparado pelo Toninho. Nada mais vi do Carnaval daquele ano, pois estava quase anestesiado. Segundo o médico que me atendeu, haviam colocado éter no meu copo. E, mediante alguns remédios, apenas na quarta feira de cinzas eu pude voltar ao normal, pronto para o trabalho.

Realmente o carnaval de 1951, para mim, acabou ás 20h:30 do domingo. Analisando o ocorrido, devem ter jogado no meu copo um jato de lança perfume e eu fiquei na segunda e na terça-feira de carnaval, apenas querendo cama. Eu que não bebia nada de álcool e não fumava, talvez não estivesse preparado para aquilo.

Naquele ano de 1951 eram tantas as músicas de carnaval que era difícil saber qual a melhor, como “Papai Adão”, cantada por Blecaute, que começava assim:

Papai Adão, Papai Adão

Já foi o tal

Hoje é Eva quem manobra

E a culpada foi a cobra

Ou “Sapato de Pobre”, interpretada por Marlene, que dizia:

Sapato de pobre é tamanco

Almoço de pobre é café, é café

Maltrata o corpo como o que, porquê?

O pobre vive de teimoso que é

Folha de zinco, caixão de banha

Faz um barraco em qualquer favela

Se tem Amélia que o acompanha

Embora pobre é feliz com ela

Depois vieram outros carnavais e eu pude assistir a outros desfiles, sem anormalidades.

Laércio
Enviado por Laércio em 01/02/2010
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