Testamento Original - BVIW

Era uma senhora muito bonita e rica. Ao longo da vida teve vários pretendentes, alguns atraídos por sua beleza, outros pensando em juntar a bela figura com os benefícios que suas posses poderiam proporcionar. Mas não era flor que se cheirasse. Tinha lá suas virtudes, porém um tanto difícil no trato diário. Acabou não se casando. E com medo de se sentir abandonada na velhice, vivia bajulando as quatro sobrinhas, filhas de sua irmã. Não se cansava de dizer-lhes que aquela fortuna, herdada do pai, seria distribuída entre elas.

Viveu bastante, fechou os olhos com mais de noventa anos. Após o sepultamento, foram os familiares chamados para a solene sessão de abertura do testamento.

Como sempre, surpresas acontecem nessas horas. Uma coisa ou outra ela deixou para os empregados, mas a totalidade de suas propriedades tinha sido vendida! Dinheiro havia e como prometido, seria dividido igualmente entre as sobrinhas. Entretanto, sob certas condições. Não receberiam tudo de uma só vez.

Durante um ano, a cada dois meses, elas teriam que passar uma semana juntas, na mesma casa, onde quer que escolhessem. Quem não aceitasse, seria excluída da rodada. Quem não agüentasse o tempo previsto, perderia pontos, que valiam cifrões e seriam somados aos das outras irmãs. Ao final de cada fase, receberiam uma determinada quantia. Só assim, desta maneira, teriam direito à herança.

Eu aqui posso bem imaginar a ‘alegria’ dessas quatro moças, que na altura já não eram tão jovens assim, tinham seus maridos e filhos para cuidar... Passar uma semana inteira juntinhas, na mesma casa... quanta confusão!

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Texto em parte inspirado no livro ‘Nacionalidade:Estrangeira’, de Cláudia Mattos.