Paraíso Fiscal
Ora muito boa tarde a todos, como sabeis, estais aqui reunidos neste dia por motivo do meu falecimento. Escusam de fingir que enxugam uma discreta lágrima no canto do olho pois estamos bem conscientes da pouca estima que sempre haveis tido por mim. Pois ficai sabendo que é mútua. Não a estima, mas a sua ausência.
Ainda assim assuntos de ordem mundana obrigam a que estejais por ora reunidos em “meus” aposentos para conhecer das deliberações que tomei.
Altino, meu irmão mais velho, vieste sempre visitar-me de dois em dois meses mesmo quando já me encontrava acamada. Nunca duvidei das tuas intenções. Eram más. Foste um inútil e um palerma desde que te conheço. Estás na ruína porque para além te nunca teres gostado de trabalhar ainda foste casar com uma senhora que desconhece o vocábulo. Posto isto digo-te que daqui não levas nada.
Guiomar, minha irmã mais nova, não te vejo desde que fugiste com o motorista do papá. Não hesito em dizer que estás sentada na fila da frente com o coração aos saltos na esperança de saíres da penúria a que voluntariamente te condenaste. Tira o cavalo da chuva. Querias amor e uma cabana. Pois seja. Até te cair a dentadura.
Tânia, minha irmã gémea verdadeira. De verdadeira só tens mesmo o ADN e mesmo assim duvido que não tenha havido aí uma mutação pelos caminhos da vida que escolheste. Bem sei que de todos és a que menos precisa da minha vasta fortuna pois a tua Casa de Luz Vermelha deve render-te uma boa maquia. Deves estar mais rica que eu. Vai lá tomar conta das tuas meninas e dá de frosques.
Não sobra ninguém? Pois não. Não precisei de ninguém em vida também não preciso de ninguém depois de morta. Calculei tudo. Paguei tudo o que havia a pagar, vendi tudo o que podia vender. Esta casa amanhã já terá novo proprietário. E o dinheiro engoli-o todo. Sim, demorou uns meses mas consegui. Vou levar tudinho para a cova. E botem lá o meu nome no livro dos recordes pois até hoje ainda ninguém se tinha lembrado disto. Embrulhem.
Ora muito boa tarde a todos, como sabeis, estais aqui reunidos neste dia por motivo do meu falecimento. Escusam de fingir que enxugam uma discreta lágrima no canto do olho pois estamos bem conscientes da pouca estima que sempre haveis tido por mim. Pois ficai sabendo que é mútua. Não a estima, mas a sua ausência.
Ainda assim assuntos de ordem mundana obrigam a que estejais por ora reunidos em “meus” aposentos para conhecer das deliberações que tomei.
Altino, meu irmão mais velho, vieste sempre visitar-me de dois em dois meses mesmo quando já me encontrava acamada. Nunca duvidei das tuas intenções. Eram más. Foste um inútil e um palerma desde que te conheço. Estás na ruína porque para além te nunca teres gostado de trabalhar ainda foste casar com uma senhora que desconhece o vocábulo. Posto isto digo-te que daqui não levas nada.
Guiomar, minha irmã mais nova, não te vejo desde que fugiste com o motorista do papá. Não hesito em dizer que estás sentada na fila da frente com o coração aos saltos na esperança de saíres da penúria a que voluntariamente te condenaste. Tira o cavalo da chuva. Querias amor e uma cabana. Pois seja. Até te cair a dentadura.
Tânia, minha irmã gémea verdadeira. De verdadeira só tens mesmo o ADN e mesmo assim duvido que não tenha havido aí uma mutação pelos caminhos da vida que escolheste. Bem sei que de todos és a que menos precisa da minha vasta fortuna pois a tua Casa de Luz Vermelha deve render-te uma boa maquia. Deves estar mais rica que eu. Vai lá tomar conta das tuas meninas e dá de frosques.
Não sobra ninguém? Pois não. Não precisei de ninguém em vida também não preciso de ninguém depois de morta. Calculei tudo. Paguei tudo o que havia a pagar, vendi tudo o que podia vender. Esta casa amanhã já terá novo proprietário. E o dinheiro engoli-o todo. Sim, demorou uns meses mas consegui. Vou levar tudinho para a cova. E botem lá o meu nome no livro dos recordes pois até hoje ainda ninguém se tinha lembrado disto. Embrulhem.