Abaixo a DITADURA POÉTICA
Abaixo a DITADURA POÉTICA
Por Vanderli Medeiros
Constantemente temos nos deparado com pessoas que se autodenominando críticos literários e/ou donos da verdade, quando a questão é poesia ou arte poética. Tais pessoas arvoram-se de uma retórica bem articulada com os sinais gráficos nos locais corretos. A princípio, até engana os mais leigos. Entretanto, é de um absurdo tão grande que ainda me pergunto: Por que até agora ninguém teve coragem de dizer o que pensa? Vemos na maioria das vezes as pessoas nervosas e ofendidas com as presumíveis “criticas literárias” de quem se autoproclama crítico-literário, sem na verdade o ser realmente.
Citarei a parte do prefácio do livro Concurso Internacional de poesia livre Prêmio Celito Medeiros 2004, do qual eu sou a prefaciadora, e que elucida sobre o que penso sobre a arte poética e de tais abusos com nomes de críticas literárias:
“A poesia, a pintura, a dança e o canto, são as artes mais antigas que temos conhecimento. A pintura e uma forma poética de descrever emoções. Podemos ver poesia em pinturas Rupestres, por exemplo, em uma época de pouco conhecimento técnico e cores, os homens das cavernas, já desenvolviam essa habilidade de transpor mensagem e emoção em forma de pinturas, quando as cores que predominavam eram o preto e o vermelho.
Contudo, foi na Grécia Antiga que a poesia começa a ganhar maior valorização - vide Ilíada e Odisséia de Homero. Vamos encontrar já na história da Grécia clássica, Platão classificando a poesia entre as artes representativas, ou artes plásticas. Entretanto, será Aristóteles que fará a divisão tradicional da poesia em três gêneros literários, que foram: O Lírico, o Dramático e o Épico.
Todavia, assim como o homem cresce e evolui em seus conhecimentos, também sua arte passa por transformações. Essa transformação e evolução ocorreram com todas as artes, inclusive com a poesia.
A arte poética passou por diversas escolas literárias ao longo da História da Literatura, e como todo saber nunca é estático, ela também foi alvo de variadas formas, ninguém jamais a conseguiu manter em cárcere privado e ser dela o seu real e verdadeiro dono, e, conhecedor absoluto. Alguns escolhem uma escola ou outra que mais goste, contudo, ela não está presa a escolas e estilos. A poesia é presa unicamente pelo sentimento do poeta ao escrevê-la.
E, com o advento da Internet, é que tivemos a oportunidade de vê-la em toda sua pujança e nuanças; trazendo em seu bojo, o popular e o erudito. Aquela excessiva preocupação com rima e métrica da Escola Parnasiana, que levou muitos poetas a caírem em formalismos vazios de emoções e significados, deu espaço a Era moderna e com ela, novas escolas e estilos literários surgiram, ficaram mais livres. Enfim, os poetas são libertos dos grilhões de escolas literárias e passam a usarem tanto versos metrificados como os livres, conforme seus gostos, sem que nenhum crítico literário possa dizer que tal ou qual poeta ou poesia está certo ou errado sem cair no ridículo da DITADURA POÉTICA...”
Não há verdades absolutas, bem já diziam os antigos filósofos da Grécia Antiga: “Há mais mistérios entre o céu e a Terra do que pode imaginar a nossa vã filosofia”. Ora pois, se assim o é, quem pode se dizer o detentor da verdade absoluta em qualquer área do saber e produzir humano?
O que é verdade hoje, amanha já é saber ultrapassado. O saber, jamais é estático, somos seres transcendentais em constante evolução, e não seria a poesia, o nosso único saber pronto e acabado e que estaria estático no universo, com o ‘privilégio’ de ser detentora da última palavra. Tudo muda e evolui em todas as áreas do saber e na arte poética também.
Posso muito bem estacionar meu saber na década de 60, por exemplo, e achar que a brilhantina é a melhor invenção até hoje, achar que a calça de boca de sino para os homens é chique demais e utilizá-la até hoje, tenho direito a isso, contudo, querer que todos achem lindo e usem essa moda como última palavra em saber, é, além de tirania do modismo, burrice comprovada, um SER totalmente retrogrado e ESTAGNADO no universo do saber, e mais; um desrespeito para com as individualidades diferenciadas que há na criação. Se todos gostassem do amarelo, que seria do azul?!
Falta, no meu entender, respeito a real liberdade de expressão do próximo, porque é fácil defender a liberdade de expressão para mim mesma, e, ABUSAR dessa liberdade, utilizando-me dela para agredir e magoar o a outrem. A crítica só é bem vinda quando eleva e ajuda a construir um espaço melhor. Críticas mordazes de pseudocríticos que são arraigados a uma só escola, não vêem como poderia ajudar alguém a crescer. É o tal de “Ver o cisco no olho alheio e não ver a trave no nosso olho”.
O real crítico, tem que dominar todas as escolas literárias para quando for criticar não ser igual ‘asno de viseira’ que só vê acentos e virgulas. Como se poesia só dependesse disso, e, o saber humano não tivesse criatividade para inovar e se fazer entender com códigos lingüísticos mais simples. Lembro-me de uma frase que ouço desde pequena e que reflete bem isso que acabo de dizer: “PARA QUEM SABE LER UM PINGO É LETRA”.
Que inovemos, que criemos, lê quem quer, quem não quer use a tecla DELETE. Quando determinado escritor precisar de algum crítico que busque um QUALIFICADO DE VERDADE, que tenha no mínimo um diploma UNIVERSITÁRIO. Não um que tenha abandonado a faculdade no meio do caminho e sem nenhuma especialização acadêmica, na área da crítica, saia por aí como foice afiada cortando cabeças pior que a guilhotina que levou a de Maria Antonieta na França.
Abaixo a DITADURA POÉTICA. Não critique, produza, NÃO DESTRUA, PLANTE ALGO DE BOM.
E viva as novas poesias contemporâneas, livres de cabresto, cada vez mais presa aos sentimentos inerentes a todo ser humano, propiciando um novo saber e prazer pela leitura. Produzamos poesias voltadas para o EU (como é o caso dos parnasianos), contudo, e principalmente, que amadureçamos como seres cósmicos e utilizemos a nossa poética para denunciar, exaltar, louvar, amar; enfim, façamos de nossa poesia um instrumento de esclarecimento ao mundo. Há tantos seres passando fome de justiça, fome de pão, fome de saber, não prendamos nossa criação poética apenas em louvar ‘musas (os)’ vazias (os) de emoção. Sejamos mais humanos e, realmente CRÍTICOS conscientes de nossa real situação sócio-cultural no mundo; utilizemos essa arma (a poética) para construir um mundo melhor e mais justo.
Vanderli Medeiros
Escritora Membro do Sindicato dos Escritores do Distrito Federal, Historiadora pela FESB e pesquisadora pela UFMT.
medeiros_derli@yahoo.com.br
Barra do Garças - MT/ Julho de 2004
http://geocities.yahoo.com.br/vanderlimedeiros/index.html