MIOJO
Geme, tropeça, arrisca, cai, lambuza, faz de conta e realmente nada é.
Um estampado que em você fica horrível. Um molho que naquele prato não apetece. Se tudo fosse a nossa escolha seria tão mais prazeroso, ajustar todo um universo a todos os nossos paladares é tão mais justo. Não mais justo que aquela blusa antes das festas de fim de ano, não mais justo que o seu salário mesmo depois do aumento. Justo, justamente apertado e agora.
O agora nos consome, nos mata como uma eficaz overdose. O agora não nos deixa pensar muito, ele é chato, ele tem mais pressa que a velocidade, é um tempo que não nos acostumamos, e o mais engraçado, é que sempre esperamos o agora. O queremos como um bendito parto, e quando acontece mentimos que estamos preparados, mas raramente estamos. E isso acontece com o agora, com o depois, com as certezas e até com os ‘nãos’. Pensamos nos preparar, pensamos estar prontos, e toda as coisas que esperam que estejamos prontos são muito melhores aproveitadas se repleta de dúvidas, de possíveis descobertas, de progressos, e não uma barreira como a preparação. E vamos construindo sonhos para vende-los na porta da escola, quando não os damos... De graça, sem nada em troca, nem o zelo pelo que já foi nosso.
Compra-se paz. Interessados favor ligarem...
Doa-se medo e insegurança, ainda são pequenos...
Vende-se um passado sujo, aceita-se veículo na proposta.
Paga-se qualquer preço por um pouco de tempo.
Procura-se respeito. Necessidade urgente...
É mesmo, o respeito por onde anda? Este é um mendigo rastejante. Há quem o levante, no entanto, há o dobro de gente para derrubá-lo. São pais mandados pelos filhos, por crianças que não sabem o que querem da vida. Então como deixar um ser que não sabe o que quer, não sabe como agir, e precisa horrorosamente de um pai, comandar todo um universo? Pior ainda a forte presença de avós... Eles são o auxilio e a vingança dos filhos, pois vão incentivar os netos a fazer tudo o que não podem, mas é isso com que os filhos terminem de crescer de verdade. E a verdade? Por que tememos e queremos tanto descobri-la. Ela existe, ela sempre está lá, a eterna diferença é que as vezes você sabe, e as vezes não!
A previsão do tempo, se vai fazer chuva ou sol, ou o que o mundo será e terá daqui há dez anos! Por que antecipar as coisas, para que nos tirar a honra de descobrir estas iguarias se vivemos para isso? Não estamos para trabalhar, montar nosso próprio negócio, reforçar as portas de entrada, nem estarmos em evidência... Nossa principal missão é continuar transformando o mundo, ele precisa de alguém que faça as coisas por ele das mais diferentes formas, então viemos para servi-lo, e somente isso, pois não é a toa que dura milhões de anos, e nós na maioria nem chegamos a uma centena deles, mas nos enganamos achando que é ele quem nos serve, aproveitamos e achando que a vida realmente é controlável teimamos em buscar felicidade.
Toda inovação é ridícula até que seja generalizada, mas essa coisa de felicidade tem a vê com inovação, pois a felicidade tem que ser do seu jeito, compartilhar a felicidade alheia é só mais atraso para uma frustração, umas férias para não servir ao mundo.
E como se serve ao mundo?
Servindo-nos uns aos outros, e sem saber fazemos a coisa certa, mas exatamente por isso: porque não sabemos! Então vê como não saber ajuda? E inovação é justamente mudar o que já sabemos para que outros não saibam e descubram!
Uma simples roupa pode ser algo mais, pode ser um dia ou eternamente diferente através de inovação. Uma aula pode ser a coisa mais interessante do mundo se inovada. O amor depois de anos pode ainda arder voraz de inovado, até mesmo um sem graça prato de “miojo” pode ser um banquete de Deuses se inovado! Então vá, comece por seu miojo e termine em toda sua vida... Termine não, continue começando, sempre! E todas as chatices, as coisas mais insuportáveis poderão ser boas, basta o empenho e a coragem de inovar!
E vá inovando do mais inusitado até o obvio. Tente não sentir vergonha simplesmente, isso é inovar o espírito. Se você se preocupa e tem vergonha de si porque as outras pessoas se acham belas, se acham ‘mais’, tenha pena delas, pois elas não inovam! E mesmo inovando somos todos iguais, a timidez diante de um público, de uma roda de pessoas, de falar o que se pensa, é privar do mundo o talento que só você tem, e você tem, pode acreditar, mas como nunca se deu a chance de se provar num pequeno ato, vive trancafiando suas palavras que podem ser preciosas ao mundo. É como dizem: Só há um jeito de descobrir! Então descubra, e depois de descobrir: inove.
Quando sentir aquela imensa vontade de ir ao banheiro,aquela louca vontade, que lhe faz trançar as pernas, doer a barriga, não pensar em nada, fazer caretas horríveis. Aquela vontade que lhe faz pensar que não conseguir tirar as calças, que lhe faz morder a boca, e nem dá tempo de arrumar o tapetinho do banheiro ou mesmo passar um papel na privada. Aquela vontade que parece que você irá passar anos sentado naquele lugar, e você nem conseguiu pegar seu livro ou uma maldita revista. Nesta hora não conte azulejos, respire fundo, não conte também, mas respire, espere dar aquele intervalo e quando tudo parecer bem, corra e desfrute deste sublime momento, e se você não acha o momento sublime, trate de achar, pois valorizar as pequenas e rotineiras causas, as inova automaticamente ninguém se entedia de ninguém.
Aquela festa chata, onde você não suporta ninguém, sorria demais, tente não sofrer, não puxe assunto, mas beba bastante, até dance só para mexer o corpo, e na hora daquela conversa chata com um quase conhecido diga que ele se parece muito com algum artista e fique com vontade de ir ao banheiro, loucamente como citado anteriormente.
Aquela família inesperada, no meio da tarde de domingo enquanto você se preparava para ainda de pijama ver um filme e deixar a TV te ‘enburrecer’ na maior preguiça, então quando eles aparecerem tente arrancar do peito uma saudade que não existe e sirva chá, biscoistos, continue de pijama e diga que o café acabou, e que sua tia se parece com uma artista, mas não a mesma ou mesmo que você falar na festa.
Quando for decorar que seja algo novo, nada de sofás combinando com paredes, os castiçais no parador, uma ‘bomboniere’ cheia de gomas, um barzinho com uísques caros, um tapete acompanhando cores e luminárias de gesso. Invista em detalhes, deixe desarrumado, espalhe colares nos móveis, tecidos sobrando das cortinas, pinga em jarras de vidro no bar, muitos livros na mesa de centro.
Prove sabores que sabe que não vai gostar, tome banho de porta aberta e cante, ouça o que tem por trás da musica. Sente na cabeceira do sofá, deite no piso da área de serviço, deixe o cachorro te lamber, você não vai morrer por isso. Tome mais chá ao invés de café, use uma roupa ridícula em casa, pinte algo de uma cor que não gosta, perfume-se e penteie o cabelo para ir dormir. Não arrume a cama, fique alguns minutos no sol de olhos fechados. Faça bolas de chiclete bem grande e deixe estourar na cara... Azar o seu se o chiclete for ruim e não sair do rosto! Invente um prato culinário, não dê descarga uma só vez, dê elogios estéticos a uma pessoa feia! Se descubra, mas não descubra tudo ao seu redor, e para que nada fique chato, perda os sentidos, sem perder a essência: Inove!
Douglas Tedesco, janeiro de 2010.