...SOLTA ELES SILÊNCIO...
A ausência, a desculpa furada de que o silêncio me sequestrou, embora tenha sido tudo verdade. A sensação de poder andar por aí e manifestar os pensamentos não foi verdadeira durante os poucos dias que estive em cativeiro a céu aberto. Os lugares para onde era carregado eram ambientes bastante urbanos, mas a voz não se fazia escutar. Era como se não existisse nada além do corpo, além do movimento lento de quem já havia perdido a pressa pela vida. Encontrei outras pessoas que também tentavam se comunicar através de gestos incompreensíveis. Havia desespero nas faces que se apresentavam diante dos meus olhos. Os barulhos do balé mecânico que se desenvolvia em ruas movimentadas era das poucas coisas que controlavam a total falta de razão. Em troca da liberdade foram exigidos dias de alegria, dias com a família e também cerveja com os amigos, além de todo o tempo livre que eu pudesse conseguir entre os contratos que já foram assinados. Busco agora reaprender o que fazer com as palavras que descem em cascatas sobre minha cabeça, para através delas encontrar as outras pessoas que desapareceram momentaneamente dos seus pequenos universos para fazer parte das armadilhas que a falta de tempo nos proporciona. Que todo ruído seja louvado por aqueles que ainda podem falar sem ter a pressa para o calar.