FIDEL CASTRO



          Posicionou-se como se estivesse a reger um coral. Bateu com o dorso da faca num copo americano, silenciando o refeitório, que tomava a quotidiana sopa de feijão: "Sou salesiano. Estou percorrendo o nordeste. Hoje, Fidel Castro tomou o poder em Cuba. Ele é a queda da democracia e a morte da religião. Orai pelos cristãos que lá serão martirizados e pela sua queda. Pois, caso contrário, será a queda do catolicismo". Com fim do seu decorado discurso, Francisco Pereira Nóbrega olhou para Juarez Benício com olhar de censura; o Reitor Luís Gonzaga Fernandes encobriu com o guardanapo seu riso irônico e o Seminário voltou ao barulho dos seus trezentos alunos.

          Era 1959. E assim, aos meus doze anos, ouvi, pela primeira vez, falar no nome deste lendário Spartacus latino. Os tempos passaram e contradisseram a profecia daquele catastrófico mensageiro. Jamais se ouviu ou se leu o dito “anticristo” pronunciar ou escrever uma só palavra contra Jesus. Declara Frei Betto: “o Fidel nunca se disse ateu. É uma pessoa que respeita profundamente as religiões. Nunca, em Cuba, uma igreja foi fechada, em mais de 40 anos da revolução. E nunca um padre foi fuzilado, como propagam. E se algum esteve preso, não foi por razões religiosas.”
          Pois bem, há quem possa alegar ser esse frade, da teologia da libertação, amigo dos cubanos. Recorro a Roma. Criadas dificuldades por pronunciamentos das autoridades eclesiásticas sobre o regime cubano, elas foram superadas pela reconciliação que o líder cubano fez com o Papa João Paulo II. O Papa decidiu receber Fidel Castro no Vaticano, retribuindo depois com a sua histórica visita a Cuba.
          Ainda mais, o Cardeal Bertone, arcebispo de Genova, visitou Cuba em outubro de 2005 a convite de Fidel. ”Foi um colóquio sobre a fome e a pobreza difundidas no mundo, a necessidade de uma maior solidariedade entre povos e governos para pararem as guerras em curso”. E continuou Bertone o seu pronunciamento: “impressionou-me a maneira com que Fidel Castro falou do Papa Bento XVI: “É um Papa de quem eu gosto muito. O seu rosto revela paz e sinceridade. Eu o compreendo”. Depois, Fidel Castro pediu também que convidasse o Papa para visitar Cuba e que tudo se fizesse para beatificar Karol Wojtyla, comparando João Paulo II à figura da Madre Teresa de Calcutá”, revelou Bertone, que, no inicio deste 2008, permanecerá uma semana em Havana, reunindo-se com Raúl Castro.
          No último período natalino, Fidel divulgou, num out-door, a seguinte mensagem cristã: “Na noite de natal, 200 milhões de crianças dormirão nas ruas do mundo. Nenhuma delas é cubana”.