Os homens da praça

Conversando com João - um dos meus cinco irmãos – sobre os antigos canteiros da praça da Catedral, aqui da terra, lembramos que em nosso tempo de criança no centro havia um maior, redondo, circundado por uma larga passarela onde se fazia o footing. Em grupos, moças rodavam numa direção enquanto os rapazes vinham pelo outro lado. Era a hora da paquera. Isso à noitinha, depois do jantar. Nas beiradas, antes da calçada propriamente dita, ficavam outros menores, perto de bancos em que as mães se sentavam para apreciar o movimento. E na esteira das lembranças ele mencionou o faquir...

É mesmo, uma vez ficou exposto lá na praça um homem magérrimo deitado na cama de pregos. Quase nu, e de turbante. As pessoas falavam com ele que nada respondia, como se surdo fosse. Engraçadinhos mexiam, faziam piadinhas, mas ele permanecia imóvel. Eu fiquei muito impressionada. Numa das vezes em que fui até lá espiar cheguei a pensar que tivesse morrido...

Do faquir, nossas recordações imediatamente pularam para o homem da bicicleta...

Que furor! A praça se encheu de gente para ver aquele homem que rodaria não sei quantas horas, dois dias talvez, pedalando sem parar. Espetáculo bem mais divertido e movimentado. O povo batia palmas, estimulava. O ciclista acelerava, fazia curvas quase tocando o chão, depois ia mais devagar, sempre respingando de suor. Mas não parava. De vez em quando ele esticava o braço e alguém lhe passava um cantil. Vi perfeitamente quando ele pegou um pão. E também lhe jogavam um balde d´água de tempos em tempos. Então eu pensei, este pelo menos não morrerá de sede nem de fome... e ainda tinha aquela ‘ducha’ pra se refrescar. Mesmo assim, fiquei intrigada. E xixi, ele não fazia?...

Morrendo de rir, mamãe recomendou que eu pensasse no balde de água...