E o seu abadá?
Estamos a duas semanas do carnaval e em Salvador só se fala nisso!
Aliás, para dizer a verdade, cristalina e incontestável, na capital baiana, fala-se em carnaval o ano todo: e de manhã, de tarde e de noite. Incrivel, senhores.
Por aqui tem gente que, na quarta-feira de cinzas, abre uma caderneta de poupança, já de olho na folia do próximo ano. Não estou exagerando.
O negócio é juntar dinheiro.
Sim, porque, no carnaval de Salvador, o folião que se preza só brinca, com relativa segurança, se tiver grana. Eu disse com relativa segurança.
Sem grana, meu camarada, ele não tem camarote, não tem bloco, não tem abada e não tem a tranquilidade necessária par se esbaldar, como quer o Rei Momo.
Sem camarote, sem bloco e sem abada, o cidadão, se pretender pular, só lhe resta uma opção: aderir ao chamado "bloco da pipoca".
Nesse bloco, ele fica solto no asfalto, para gáudio dos bandidos. Aos magotes eles invadem a avenida e saem batendo, furtando e roubando ao som do trio elétrico.
De repente o folião pipoca pode aparecer nos corredores de um hospital ou estendido no mármore frio de um necrotério.
Como também, bafejado pela sorte, nada lhe acontecerá. Escapa.
E as arquibancadas? Ora, ora, arquibancada é coisa de carioca.
Às estrelas - Daniela, Ivete, Margareth, etc., etc. - nada lhes atingira.
Do alto dos seus possantes trios elas comandam a massa, com graça e soberana presença.
Só são alcançadas por serpentinas coloridas que lhes são atiradas por foliões saudosistas, perdidos na multidão.
Me perdoem, mas estou revelando o que a imprensa - mui bem remunerada pelos governos, é o que se diz - recusa-se a divulgar.
A determinação oficial é esta: dizer que, no chão da praça, está tudo correndo às mil maravilhas, coisa que só os imbecis acreditam.
E o seu abadá?
Me fazem esta pergunta a todo momento e em qualquer lugar.
Indagam-me a respeito, até no adro de minha igreja, paróquia da Pituba, quando, depois da missa, encontro com amigos para falar de Deus e do Mundo.
Minha resposta é sempre esta: Oh! Eu sou de outros carnavais.
Dos carnavais sem abadás; dos carnavais das marchinhas (Bandeira branca) que deixavam saudade;
dos carnavais do lança-perfume e do confete;
dos carnavais das colombinas envolventes, cujo gostinho dos seus batons atravessava a Quaresma, perfumando o seu silêncio sagrado...
Nunca fui um fã do carnaval de rua.
Nem aqui em Salvador onde a folia na avenida foi (e será sempre) mais forte e mais convidativa.
As pouqíssimas vezes que, aqui, me fiz folião, busquei os clubes. Os chamados bailes carnavalescos.
Uma preferência trazida do Ceará.
Meus carnavais em Fortaleza foram todos curtidos no simpático Maguari. Esse clube,desativado, faz muitos anos, atraia o melhor da mocidade fortalezense dos anos 1950.
Ficava, se a memória não me falha, na Rua Barão do Rio Branco, quase chegando na Avenida 13 de Maio.
Algumas décadas me separam desses alegres carnavais cearenses.
Por onde andarão as colombinas que conheci?
Este ano, meu carnaval será longe, muito longe dos abadás.
Nos dias de folia, estarei na serra da Borborema, na valorosa Paraíba.
E - pasmem! - rezando...
Distante, portanto, de Salvador, não ouvirei um único acorde dessas desvairadas guitarras baianas que com essa história de Axé-music, roubaram dos carnavais da Boa Terra suas marchinhas cativantes e inesquecíveis.
E como vou passar o carnaval na Paraíba, vejam o que um dos seus famosos filhos, José Lins do Rego, escreveu sobre Momo:
"Eis que surge, vitorioso, despertando do sono longo em que dormia, o deus festivo, que tem durante três dias o poder mágico de atrair, à grandeza divina de seu culto, a humanidade, roubando-lhe o juízo.
Todos na ânsia insuperável de divertir-se vão oferecer-lhe no altar imenso da alegria, a virtude, o dinheiro, e muitas vezes a vida."
MENOS EU!
Estamos a duas semanas do carnaval e em Salvador só se fala nisso!
Aliás, para dizer a verdade, cristalina e incontestável, na capital baiana, fala-se em carnaval o ano todo: e de manhã, de tarde e de noite. Incrivel, senhores.
Por aqui tem gente que, na quarta-feira de cinzas, abre uma caderneta de poupança, já de olho na folia do próximo ano. Não estou exagerando.
O negócio é juntar dinheiro.
Sim, porque, no carnaval de Salvador, o folião que se preza só brinca, com relativa segurança, se tiver grana. Eu disse com relativa segurança.
Sem grana, meu camarada, ele não tem camarote, não tem bloco, não tem abada e não tem a tranquilidade necessária par se esbaldar, como quer o Rei Momo.
Sem camarote, sem bloco e sem abada, o cidadão, se pretender pular, só lhe resta uma opção: aderir ao chamado "bloco da pipoca".
Nesse bloco, ele fica solto no asfalto, para gáudio dos bandidos. Aos magotes eles invadem a avenida e saem batendo, furtando e roubando ao som do trio elétrico.
De repente o folião pipoca pode aparecer nos corredores de um hospital ou estendido no mármore frio de um necrotério.
Como também, bafejado pela sorte, nada lhe acontecerá. Escapa.
E as arquibancadas? Ora, ora, arquibancada é coisa de carioca.
Às estrelas - Daniela, Ivete, Margareth, etc., etc. - nada lhes atingira.
Do alto dos seus possantes trios elas comandam a massa, com graça e soberana presença.
Só são alcançadas por serpentinas coloridas que lhes são atiradas por foliões saudosistas, perdidos na multidão.
Me perdoem, mas estou revelando o que a imprensa - mui bem remunerada pelos governos, é o que se diz - recusa-se a divulgar.
A determinação oficial é esta: dizer que, no chão da praça, está tudo correndo às mil maravilhas, coisa que só os imbecis acreditam.
E o seu abadá?
Me fazem esta pergunta a todo momento e em qualquer lugar.
Indagam-me a respeito, até no adro de minha igreja, paróquia da Pituba, quando, depois da missa, encontro com amigos para falar de Deus e do Mundo.
Minha resposta é sempre esta: Oh! Eu sou de outros carnavais.
Dos carnavais sem abadás; dos carnavais das marchinhas (Bandeira branca) que deixavam saudade;
dos carnavais do lança-perfume e do confete;
dos carnavais das colombinas envolventes, cujo gostinho dos seus batons atravessava a Quaresma, perfumando o seu silêncio sagrado...
Nunca fui um fã do carnaval de rua.
Nem aqui em Salvador onde a folia na avenida foi (e será sempre) mais forte e mais convidativa.
As pouqíssimas vezes que, aqui, me fiz folião, busquei os clubes. Os chamados bailes carnavalescos.
Uma preferência trazida do Ceará.
Meus carnavais em Fortaleza foram todos curtidos no simpático Maguari. Esse clube,desativado, faz muitos anos, atraia o melhor da mocidade fortalezense dos anos 1950.
Ficava, se a memória não me falha, na Rua Barão do Rio Branco, quase chegando na Avenida 13 de Maio.
Algumas décadas me separam desses alegres carnavais cearenses.
Por onde andarão as colombinas que conheci?
Este ano, meu carnaval será longe, muito longe dos abadás.
Nos dias de folia, estarei na serra da Borborema, na valorosa Paraíba.
E - pasmem! - rezando...
Distante, portanto, de Salvador, não ouvirei um único acorde dessas desvairadas guitarras baianas que com essa história de Axé-music, roubaram dos carnavais da Boa Terra suas marchinhas cativantes e inesquecíveis.
E como vou passar o carnaval na Paraíba, vejam o que um dos seus famosos filhos, José Lins do Rego, escreveu sobre Momo:
"Eis que surge, vitorioso, despertando do sono longo em que dormia, o deus festivo, que tem durante três dias o poder mágico de atrair, à grandeza divina de seu culto, a humanidade, roubando-lhe o juízo.
Todos na ânsia insuperável de divertir-se vão oferecer-lhe no altar imenso da alegria, a virtude, o dinheiro, e muitas vezes a vida."
MENOS EU!