ESSA TAL ESPERIÊNCIA

O dia estava bem bonito em Cabo Frio naquele dia. Mas uma leve brisa, bem fresca, acariciava nossa pele.

A rodoviária estava cheia. Pessoas vindo e indo. Famílias que não se viam à muito tempo, se abraçavam e conversavam alegremente.

Chegou a hora do meu ônibus partir.

Olhei para os meus pais; estavam felizes, o sorriso deles tentava me dizer: “ Vá! Siga seus sonhos! “

Mas minha mãe escondia um pouco de desapontamento. Estava um pouco triste por estar perdendo sua pequena menina, sua única filha, sua princesinha.

Sempre me dizia:

___ Porque você não continua aqui, minha filha. Com seus estudos, você arranja um bom emprego e continua morando comigo e com seu pai!

___ Eu quero arriscar, mãe! Quero morar no Rio de Janeiro, trabalhar numa grande empresa... ___ eu respondia, sonhando com minha vida no Rio, sendo secretária de uma multinacional, morando num bom apartamento.

Meu pai me apoiava:

___ Teresa, nossa menininha cresceu!! A Maria Fernanda já tem 20 anos, está na idade de andar com as próprias pernas!

Peguei minha mochila que estava com minha mãe, abracei os dois, beijei-os e disse que quando chegasse no Rio, ligaria para eles.

Meu pai pegou minhas duas malas e colocou-as nos ônibus.

Subi o primeiro degrau do ônibus; senti um frio na barriga, olhei para trás, sorri para eles e entrei.

Sentei perto da janela, quando me viram, começaram a abanar a mão direita no ar, minha mãe também mandava beijinhos; sorri e mandei um beijo para os dois. Senti uma lágrima quente escorrer pelo rosto, enxuguei discretamente.

Quando cheguei no Rio de Janeiro, peguei um táxi perto da rodoviária e seguimos para a Tijuca, onde e ficaria na casa de minha amiga Míriam.

Chegamos; Míriam morava em um pequeno prédio de 4 andares, com um belo jardim na frente.

Apertei o interfone e ela veio me receber, estava feliz em me ver.

No dia seguinte, quando tirava as roupas das malas, encontrei um envelope no meio das roupas. O abri. Havia 300 reais e um pequeno bilhete que dizia: “ Se precisar de mais, nos ligue. Pai e Mãe.”

Depois fui até uma agência de empregos, onde entreguei meu currículo. Passei na banca da esquina e comprei o jornal.

Em casa, na mesa da cozinha, peguei o caderno de empregos. Todos os cargos em que eu me enquadrava exigiam experiência, coisa que eu não tinha a oferecer; nunca havia trabalhado.

Um semana se passou. Nenhuma empresa havia me chamado; todos os lugares em que eu ia exigiam experiência. Também não consegui nenhum em prego nos classificados.

___ Que mundo injusto! ___ eu dizia à Míriam___ só aceitam pessoas com experiência... mas ninguém nasce sabendo! Os que hoje são experientes, antes não tinha experiência... ganharam uma chance, uma oportunidade!

Era disso que eu precisava: oportunidade.

O Domingo chegou.

Depois do café da manhã, Míriam foi para a casa da mãe no Andaraí. Eu preferi ficar em casa.

Peguei o jornal e fui para o quarto , desesperançada.

Vários empregos para secretária, auxiliar administrativo; todos exigindo experiência.

Passei o olho desinteressada, pelas páginas, até que achei o seguinte anúncio:

“ Precisa- se de recepcionista para trabalhar em hospedaria familiar em Santa Teresa. Exige-se especialidades com administração. Com ou sem experiência. Telefonar para o seguinte número: 242-956; falar com Dona Beatriz”

Imediatamente liguei para o número e conversei com Dona Beatriz, dona da hospedaria. Ela pediu para que eu comparecesse lá na Segunda feira, às 10 da manhã.

No dia seguinte compareci no endereço dado por Dona Beatriz.

Estava diante de uma casarão, bem conservado, situado numa rua bem arborizada no charmoso bairro de Santa Teresa.

Na frente, havia um jardim, que embelezava ainda mais aquela enorme casa cheia de janelas. Admirei as flores, olhando por entre as grades de ferro colonial do muro de tijolos vermelhos..

Na coluna ao lado do portão de ferro, havia uma placa onde se lia: “ Hospedaria Nossa Senhora das Graças”

Apertei a campainha; uma senhora de cabelos alourados surgiu na porta, desceu os degraus da escada da varanda e veio me atender.

___ Bom dia, ___ eu disse___ poderia falar com Dona Beatriz?

___ Sim, sou eu. ___ respondeu a senhora com um sorriso___ você deve ser Maria Fernanda.

Concordei com a cabeça.

___ Entre, querida, vamos conversar lá dentro!___ abriu o portão e entramos no casarão.

Passamos por um vestíbulo, pelo hall da escada e entramos numa enorme sala de estar.

___ Sente-se, minha filha.___ disse Dona Beatriz apontando para um sofá marrom___ vou providenciar um cafezinho.

Entrou em outra sala, abriu uma porta de vidro e sumiu.

Corri os olhos pela sala, bem decorada; havia outro sofá e uma poltrona. Perto da janela, havia uma cômoda comprida, de madeira clara. Tinha vários enfeites e bibelôs espalhados por cima; além de alguns porta retratos e uma imagem de Nossa Senhora.

Dona Beatriz voltou com uma bandeja com uma chaleira, duas xícaras e uma vasilha redonda com biscoitos.

O café está quentinho, Maria Fernanda___ colocou a bandeja em cima da mesinha de centro___ os biscoitos são caseiros, preparados aqui mesmo pela nossa cozinheira.___ pegou um, deu uma mordida___ São divinos!!!

Coloquei um pouco de café na xícara de porcelana e peguei um biscoito.

___ E então, querida, já trabalhou com recepção antes?

___ Não, Dona Beatriz... nunca trabalhei...___ mas eu tenho curso de gestão empresaria; e algumas noções de contabilidade. Meu pai é contador.

___ Que bom, garota bem preparada!___ as mulheres estão conquistando espaço no mercado de trabalho,___ fitou os olhos azuis em mim___ fico feliz por isso...

___ Eu também...

___ Agora vamos falar do que interessa,___ disse ela limpando as pontas dos dedos e os lábios com guardanapo___ até uns cinco anos atrás, eu dava conta de tudo sozinha, depois contratei o Carlos para trabalhar na recepção e administrar a hospedaria. Depois de mais de 4 anos eu descobri que o pilantra vinha me roubando, dando pequenos desfalques (mas você sabe, de grão em grão, a galinha enche o papo). Despedi o danado e desde lá, venho sozinha, na administração da casa...

___ Nossa, esse Carlos foi um cafajeste, heim...___ disse eu, revoltada.

___ É a vida, minha filha.___ disse ela olhando para o horizonte___ Mas graça à Deus, não fiquei mais rica ou mais pobre por causa disso.... Que Deus tenha misericórdia desse rapaz___ apontou o dedo para o céu... mas voltando ao assunto: eu preciso de uma recepcionista... uma pessoa de confiança para mexer com o dinheiro e as contas da hospedaria.

___ Então a senhora está falando com a pessoa certa!___ eu disse, dando um sorriso.

___ Então você aceita trabalhar aqui?

___ Claro, Dona Beatriz!

Conversamos sobre o meu salário e a carga horária. Depois Dona Beatriz me levou para conhecer a casa.

Me mostrou a sala de televisão, a sala de visitas, a sala de jantar... a cozinha e a copa... depois me levou até a recepção, que ficava numa grande sala perto da escada. Havia um balcão cumprido de madeira de boa qualidade. Do lado de dentro da balcão haviam um grande armário e um móvel pendurado na parede, onde haviam várias divisórias para guardar chaves e correspondência dos hóspedes. Na parte de fora haviam 4 bancos de madeira com pernas compridas, encostados encostados no balcão, e duas poltronas com uma mesinha de centro entres elas; além de uma prateleira de mármore no alto da parede, onde havia uma imagem de Nossa Senhora das Graças, ornamentada com vasos de flores e anjinhos de porcelana.

Entramos num corredor e fomos até a biblioteca. Dona Beatriz abriu uma das portas do aposento e pude ver um belo jardim interno, rodeado pelas varandas da casa. Por último conheci a lavanderia, os quartos e os banheiros.

Comecei a trabalhar na Terça feira; Dona Beatriz pediu para que eu ficasse para o jantar.

Ajudei ela e Isabel, a cozinheira, a fazer a comida e arrumar a sala de jantar.

Ás 9:00 da noite, todos já estavam reunidos em volta da mesa da sala de jantar..

Fui apresentada aos hóspedes: Viviane era estudante de medicina; Arthur era professor de história; Ângela, enfermeira; Sr. Davi, funcionário público aposentado,; Arlete era cabeleireira; Maurício, balconista de uma padaria do bairro, Camila, secretária de um escritório de contabilidade; e Roberto trabalhava numa sapataria.

As semanas se passaram; um mês, dois meses... já estou trabalhando na hospedaria há 3 meses. Terei minha carteira assinada por Dona beatriz – meu maior sonho desde que comecei a trabalhar. Ela também quer que eu vá morar lá.

Não consegui nenhum trabalha numa multinacional, nem comprei o tal apartamento que ambicionava Ter. Mas como diz a saudosa Dona Beatriz, de grão em grão a galinha enche o papo. E além do mais, ainda sou jovem e tenho saúde e disposição pra correr atrás dos meus sonhos, quando for atrás de um novo emprego, vou Ter a tal experiência que todos exigem.

Nada mal para uma garota sonhadora que veio de Cabo Frio inexperiente, com a cara e a coragem.

Meus pais estão satisfeitos por eu Ter arranjado meu primeiro emprego; e minha mãe que me tratava como uma criança, agora vê a filhinha cresceu e virou uma mulher, e já sabe enfrentar a vida sozinha.

===DEIXE SEU COMENTÁRIO===

Igor P Gonçalves
Enviado por Igor P Gonçalves em 29/01/2010
Reeditado em 03/02/2010
Código do texto: T2058620
Copyright © 2010. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.