A PORTA ENGUIÇADA
 
Sempre penso:- "Como são trabalhadores os que de Portugal vieram!" É difícil encontrar um português vagabundo, aquele vagabundo no sentido exato da palavra.

Conheci muitas famílias portuguesas que a trabalhar estavam constantemente. Elas iniciavam com uma simples venda, aquela vendinha do fiado de caderneta, e sabiam como levá-la adiante, por muitos anos. Tiravam bom proveito do seu suor e eis que, num belo dia, compravam um armazém e depois um mercadinho e hoje compram um supermercado. Realmente conseguem tudo do esforço familiar porque pais, filhos, tios e sobrinhos dividem as obrigações diárias.

Mas devo mencionar fato que aconteceu comigo. Perto do colégio onde eu estudava havia uma quitanda. Seus donos, nem preciso dizer, todos portugueses. Vendiam um pouco de tudo, frutas, verduras, sanduiches, doces e sorvetes feitos por eles mesmos. Cada um contribuia a seu modo. A maravilhosa mão da Elisa aparecia naquele pudim de pão que a todos deliciava. A Dona Helena fazia um picolé com frutas frescas que era bom demais. Pai, filha, genro e sogra estavam sempre ali atendendo a freguesia, sem descansar um dia sequer, fosse Natal, Ano Novo, Páscoa, Dia de Nossa Senhora de Fátima ou o qual fosse.

Uma bela manhã, ao passar pela quitanda constatei que uma das portas não estava levantada. Achei estranho. Perguntei ao dono:- "O que aconteceu, Seu Carmo, a porta enguiçou?" E ele com voz muito baixa me respondeu:- "Não, minha mãe morreu."
Deyse Felix
Enviado por Deyse Felix em 29/01/2010
Reeditado em 20/06/2016
Código do texto: T2058400
Classificação de conteúdo: seguro