OPERANDO NO VERMELHO
Foi num desses magros meses de receita que se deu a coisa. Contra toda a expectativa do servidores, que esperavam receber oitenta por cento de aumento, um funcionário da Assessoria de comunicação entregava na fila do pessoal, que se estendia desde a janela da Secretaria de Fazenda, onde era feito o pagamento, até o portão de entrada, um boletim onde se lia que, apesar das dificuldades enfrentadas pela Prefeitura com a queda de receita, decorrente do não recolhimento de ICMS por parte do Estado, o Prefeito, num esforço conjunto com a Secretaria de Fazenda, concedera um aumento de dez por cento a todos os servidores, "prova inequívoca de sua competência político-administrativa e de seu empenho pessoal para a valorização e resgate da dignidade do servidor". A insatisfação, é claro, foi geral.
_ Isso é uma gangrena! - Sentenciou um médico.
_ Eu não aprovo! - resmungou a Professora.
_ Grande bosta! - Gritou o funcionário da rede de esgoto.
_ Isso é sujeira! - Emendou o coletor de lixo.
E cada um falava de suas contas a pagar, do aumento do leite, do feijão, da conta de luz, enfim, tudo havia subido mais de oitenta por cento e, agora? Fazer o quê com a aquela esmola? Como comer? E se alguma pessoa na família adoecesse? O jeito era morrer à mingua. E alguém já tinmha visto as festas do Prefeito? Churrasco todo fim-de-semana, carne macia, cerveja gelada, whisky importado e tudo do bom e do melhor. E pra gente, oh!
E a coisa poderia ter ficado por aí, não fosse a infeliz idéia do Prefeito de descer do gabinete para tomar pulso da situação.
O coletor de lixo respaldou-se no descontentamento geral, encheu-se de brios, inflou o peito e, boletim em riste, foi de encontro ao Prefeito:
_ O senhor não tem dó da gente? Isso é aumento? Cumé que a gente vai pagar as contas?
_ O Prefeito quis argumentar:
_ Bem, eu reconheço que o salário da Prefeitura não é lá aquelas coisas. A situação não está boa para ninguém e embora você possa não acreditar e talvez seja também difícil de você entender, já faz algum tempo que estamos operando no vermelho...
_ Isso é verdade, Prefeito! Tenho absoluta certeza disso.
O Prefeito ficou meio desconcertado diante da inesperada aquiescência do funcionário. Em primeiro lugar ele não imaginava que um coletor pudesse ter idéia do que seja "operar no vermelho", além do mais, que acesso tinha ele a tais informações? Tinha que ver isso com o secretário de Fazenda. De qualquer forma isso facilitava a conversa. recompôs-se do espanto e retomou o diálogo:
_ Quer dizer que você sabe que estamos operando no vermelho?
_ É claro doutor! E é por isso que tá todo mundo reclamando... O o vermelho da gente já não aguenta mais.
Foi num desses magros meses de receita que se deu a coisa. Contra toda a expectativa do servidores, que esperavam receber oitenta por cento de aumento, um funcionário da Assessoria de comunicação entregava na fila do pessoal, que se estendia desde a janela da Secretaria de Fazenda, onde era feito o pagamento, até o portão de entrada, um boletim onde se lia que, apesar das dificuldades enfrentadas pela Prefeitura com a queda de receita, decorrente do não recolhimento de ICMS por parte do Estado, o Prefeito, num esforço conjunto com a Secretaria de Fazenda, concedera um aumento de dez por cento a todos os servidores, "prova inequívoca de sua competência político-administrativa e de seu empenho pessoal para a valorização e resgate da dignidade do servidor". A insatisfação, é claro, foi geral.
_ Isso é uma gangrena! - Sentenciou um médico.
_ Eu não aprovo! - resmungou a Professora.
_ Grande bosta! - Gritou o funcionário da rede de esgoto.
_ Isso é sujeira! - Emendou o coletor de lixo.
E cada um falava de suas contas a pagar, do aumento do leite, do feijão, da conta de luz, enfim, tudo havia subido mais de oitenta por cento e, agora? Fazer o quê com a aquela esmola? Como comer? E se alguma pessoa na família adoecesse? O jeito era morrer à mingua. E alguém já tinmha visto as festas do Prefeito? Churrasco todo fim-de-semana, carne macia, cerveja gelada, whisky importado e tudo do bom e do melhor. E pra gente, oh!
E a coisa poderia ter ficado por aí, não fosse a infeliz idéia do Prefeito de descer do gabinete para tomar pulso da situação.
O coletor de lixo respaldou-se no descontentamento geral, encheu-se de brios, inflou o peito e, boletim em riste, foi de encontro ao Prefeito:
_ O senhor não tem dó da gente? Isso é aumento? Cumé que a gente vai pagar as contas?
_ O Prefeito quis argumentar:
_ Bem, eu reconheço que o salário da Prefeitura não é lá aquelas coisas. A situação não está boa para ninguém e embora você possa não acreditar e talvez seja também difícil de você entender, já faz algum tempo que estamos operando no vermelho...
_ Isso é verdade, Prefeito! Tenho absoluta certeza disso.
O Prefeito ficou meio desconcertado diante da inesperada aquiescência do funcionário. Em primeiro lugar ele não imaginava que um coletor pudesse ter idéia do que seja "operar no vermelho", além do mais, que acesso tinha ele a tais informações? Tinha que ver isso com o secretário de Fazenda. De qualquer forma isso facilitava a conversa. recompôs-se do espanto e retomou o diálogo:
_ Quer dizer que você sabe que estamos operando no vermelho?
_ É claro doutor! E é por isso que tá todo mundo reclamando... O o vermelho da gente já não aguenta mais.