O encontro

O encontro

Deu-se devagar, bem devagar o instante em que se cruzaram devagar foi o instante em que lentamente se olharam, sem piscar, sem parar, se reconheceram naquele olhar.

– o segundo em que meus olhos enxergaram os seus olhos demorou a passar.

Ficaram parados levados pelos olhos, pelos sonhos como se convidados fossem, convidados a dançar.

– o segundo em que seus olhos enxergaram os meus olhos demorou a passar.

Testemunhando o momento uma menina a brincar no sol ainda frio, uma senhora a andar no chão ainda molhado e uma brisa a soprar leve vinda do mar.

– os segundos em que nossos olhos se enxergaram intensamente demoraram a passar.

A menina parou de brincar, à senhora parou para apreciar, quando se deram conta que o momento que presenciavam era um começo. A criança queria se juntar, fazer parte. A senhora queria poder voltar o tempo, uma queria crescer para viver, outra queria voltar para poder reviver.

– os segundos em que nossos olhos enxergaram aquele momento demoraram a passar.

O sol já começava a aquecer, a aquecer aquele momento, aquele instante e os dois parados ali a se olhar a acreditar no momento, no momento em que souberam que em um só olhar se anunciava uma nova primavera, uma nova estória.

– os segundos em que nossos olhos se enxergaram, já não demoravam mais a passar.

De um olhar, um instante nasceu a certeza de que a vida pode sempre se reiniciar, a qualquer instante e nos iludimos ao achar que aqueles personagens iriam desistir, desistir de perpetuar o momento em que se encontraram. Ilusão foi achar que desistiriam de sonhar.

– os segundos em que nossos olhos enxergaram aqueles olhos já não nos bastava, queríamos continuar a olhar e não deixar mais o tempo passar.

De repente a brisa soprou forte e por uma raro instante os corpos que se encontraram, os olhos, os cheiros e os pensamentos que se encontraram voltaram a enxergar voltaram todos a andar, a sentir os pés novamente tocarem o chão. A imagem que se congelara por alguns segundos se desfez.

– os segundos em que nossos olhos se enxergaram voltaram a andar por que agora nós podíamos fazer o tempo realmente começar a passar.

Pelo mundo, juntos começaram a andar, ele que enxergou nela e ela que enxergou nele o novo, juntos enxergaram o que há tempos procuravam, começavam agora a contar, a passar e construir outros momentos.

– os segundos já não eram mais importantes por que nossos olhos continuaram sempre a se cruzar e o tempo já não era tão importante por que agora tínhamos com quem passar.

A menina voltou a brincar sabendo que podia começar a sonhar à senhora voltou a caminhar, agora com a certeza de que podia voltar a sonhar.

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